MEU MUNDO CÃO

Sempre fui cachorreiro, basta observar minhas fotos de infância: futebol e cachorro. No futebol, a coisa não evoluiu muito como atividade. Desde que me separei e me afastei da casa com grande pátio, em 30/08/88, nunca mais cogitei de cães. Em outubro de 2003, portanto, há 17 anos, comecei lentamente um envolvimento afetivo sólido com Andréa. Após certo tempo, ela me apresentou o primeiro poodle, que criava com seu irmão, cunhada e sobrinha, no apartamento da mãe Liège, na vizinha Rua da República: Bidu. Confesso que resisti um tanto, pois vislumbrava compromisso. Mas a vida fluiu e há mais de dez anos vivemos no apartamento que adquiri para dar piso e teto adequados à nova relação. Claro que em companhia do Bidu, mas em revezamento com o irmão da mulher. O pai de Andréa, separado, residia em Torres e tinha uma empregada que criava uma terna cadelinha, Baby, pouco mais velha que Bidu. Como íamos visitá-lo, tanto quanto o irmão da esposa, e que levava também o Bidu, aconteceu o inevitável: no cio da Baby, também poodle, Bidu compareceu e, numa ninhada de 3 ou 4, apenas um sobreviveu; afinal, era cadelinha criada em pátio de casa. Achei um encanto o sobrevivente: uma bolinha branca, peluda e enroscadinha. Uns dois meses depois, no dia dos namorados, quando retorno à noite do trabalho, a surpresa, que o enteado Gabriel trouxe de seu quarto: o filhinho de Bidu e Baby, que, depois de muita troca de ideias, resolvemos chamar de Chopinho, uma gracinha, como diria Hebe Camargo. Muito apegado a Bidu, era fácil deixar com os cunhados para viajar. Quando íamos para Gramado, antes, portanto, de eu comprar o apartamento (o que efetuei há 6 anos), deixávamos os cãezinhos duas ou três vezes em hotéis caninos, até nos darmos conta de que sofriam muito com o afastamento. Há uns cinco anos, a empregada do sogro abriu mão de Baby, que já caíra no Rio Mampituba (catarata em marcha) e sobrevivera um ou dois dias no matagal: pelagem detonada, problemas sérios de ouvido, catarata galopante e já inoperável, demandando, enfim, muitos cuidados. Tinha uns 9 anos, hoje 14 (com síndrome de Cushing, pesando entre 10 e 12 quilos, que tenho de pegar no colo a todo instante e que recentemente me rendeu hérnia inguinal).

Desde que a conheci, pulava faceira para o meu lado. Com meu posterior apoio, a mulher trouxe Baby para o apartamento: família canina completa e ela é o meu chiclete. Mas, a história continua. No veraneio passado, na casa alugada por 15 dias em Xangri-lá, surgiu um cachorrinho de rua ou extraviado (guaipeca), extremamente dócil, que Andréa alimentou e que não desgrudava mais de casa. Ficava sob nosso carro, no pátio, e quando a mulher saía para o supermercado, largava em disparada atrás, de modo que eu tinha de fechar logo o portão eletrônico para evitar perigo de acidente com o bichinho. Passou a dormir e a comer religiosamente lá em casa, sem qualquer problema com os poodles e, assim, tornou-se da família. Naturalmente, veio conosco para Porto Alegre, é super apegado, afável, ainda que exija bastante nos passeios pelo quarteirão. Passamos a chamá-lo de Pelé. Já conhece bem Gramado, mas não ficaria em hotel ou com mais ninguém, em princípio. Sair de casa para algum evento, já é um problema para os quatro. Viagem mais longa, só nós dois? Não vislumbro ainda solução. É ruim, mas é bom.