A VIDA COMO ELA É
Quando a gente é pequeno, no caso masculino, deseja-se geralmente ser bombeiro, detetive, marinheiro, aeronauta, jogador de futebol. Viramos adultos e cada um no seu quadrado enfrenta a realidade. O bombeiro torna-se biólogo; o detetive, advogado, médico ou engenheiro; o marinheiro ou aeronauta descobre o dom da música e o futuro craque futebolístico resolve ser empresário, dentista ou marceneiro. Há quem se encontre no compasso da força telúrica de explorar campos e lavouras. A vida é a arte de descobrir-se. Uns mais cedo, outros mais tarde. Normal. Determinadas circunstâncias existenciais contribuem para a definitiva opção de cada um. Aliás, nada impede que um médico seja excelente saxofonista ou que um gari seja invejável tenor. Independentemente da profissão escolhida, sempre gostei de escrever. Jamais concorri em busca de distinções, mas acho que isto é bom e faz parte da aventura criativa. A vaidade é também motor de progresso individual. Meu filho acha que sou mais poeta do que cronista. Atuo nas duas áreas, mas pouco na poesia. Como romancista, não tenho o menor cacoete, infelizmente. Como poeta – que já publicou um livretinho em 1981 – fiquei satisfeito com o trabalho, mas acredito que meu chão seja mesmo a crônica, o artigo ou o ensaio e não o verso. Lamento apenas que a poesia seja tão pouco prestigiada. Há bons poetas com pouco público leitor. Jamais uma poesia que aqui publiquei (e foram várias ao longo do tempo) alcançou nível próximo de leitores interessados como nas crônicas. Obviamente não é por tal razão que sustento minha preferência. Não preciso enfatizar que gosto muito de poesia. As minhas primeiras foram aos 15 anos de idade. Costumo ler as que os amigos publicam. Quero dizer, finalmente, que, nos meus anos mais tenros, o poema tinha alto prestígio. Quem sabe também fosse desejo infantil ser, um dia, POETA. Não lembro se tal me ocorreu; creio que almejava mesmo ser detetive ou marinheiro.