SOBRE FOGÕES E PODER
"Não é possível que um fogão com dois anos de uso dê problema desse jeito!" - Minha esposa fazia crepitar, indignada, o botão do acendedor enquanto o cheiro de gás enchia a cozinha.
"Usa um fósforo, meu bem, depois a gente conserta isso" - Falei com calma, abrindo a janela da cozinha pra evitar as duas explosões: A dela e a do gás...
"Não é possível, deve ser algum problema com a tubulação..." Falou, finalmente desistindo do acendedor e me observando sair fora da cozinha.
"Bem, não é a tubulação. Vai ver caiu alguma coisa na saída de gás e entupiu. Isso acontece..."
"A gente compra um fogão cheio de recurso, caríssimo e a porcaria com dois anos de uso quebra! Isso é um absurdo!"
"Amor, usa um fósforo e vamos tomar café em paz. Nossas mães usaram fósforo a vida toda e ninguém morreu por isso" - Falei, mas me arrependi na mesma hora.
"Nossas mães não pagaram o absurdo que pagamos nessa porcaria que custou os olhos da cara! Dinheiro jogado fora!" - Falou e percebi que eu, com o vício maldito do sarcasmo, evitei uma explosão e causei outra.
"Amor, calma. Veja bem: Você tem ideia de quanto custa um Presidente da republica? Qual o custo que o país tem pra manter salários, residência, segurança, gabinetes, escritórios reginais, assessores, aeronaves, veículos, etc?" - Falei tentando um tudo ou nada.
"Que disgrama isso tem a ver com o maldito fogão?"
"Tem ideia ou não tem?"
"E eu sei lá!?"
"Seiscentos milhões de reais por ano!" - Chutei.
"Caralho!"
"Pois é, seiscentos paus!"
"Zorra..."
"Agora eu te pergunto: O presidente presta?"
"Ele é um filho da puta escroto!"
"Então amor, não é porque uma coisa é cara que ela é boa..."
"Me da aqui essa caixa de fósforos e vamos tomar café em paz..."