Memórias do Covid-19, capítulo 3
Duzentos e doze dias de confinamento. Cento e dez dias até o Natal.
A cada dez dias, ou algo assim, dou uma corrida ao supermercado, à drogaria e à banca que vende jornal de cachorro. Usando máscara, visor e luvas cirúrgicas. Nesse meio-tempo, passei uma pavorosa noite em um imaculadamente desinfetado hospital para extrair mais um pólipo dos intestinos, sob cuidados máximos. Eu teria me sentido uma rainha, não fosse a fome, a sede e as loucas corridas ao banheiro da meia-noite às cinco da manhã. Mas pelo menos voltei pra casa com dois quilos a menos.
A dois meses atrás, comecei a fazer exercícios. Alongamento, pliés, longs de jambre, a coisa toda. Daí coloco uma música - sábado foi Mussorgky, Picures in Exibition, segunda foram os Noturnos de Chopin – e saio dançando. O máximo que posso, obviamente, sem grands jetés ou piruettes. Imagine a cena: uma senhora de 70 anos, fora de forma (por favor não use a palavra gorda!) dançando A Morte do Cisne... Depois dessa, não olhei mais no espelho. E fecho cuidadosamente as cortinas – vai que algum vizinho, confinado como eu, passe o tempo na janela com binóculos!
O resultado dessa dança toda foi que comecei a ficar em forma. Ter mais ânimo para encher a Brastemp, meter a louça suja na lavadora, juntar livros espalhados, limpar cinzeiros. Pronto. Casa limpa. Esqueça o chão – primeiro, porque não posso me abaixar (e por que, diga-me, eles não fazem os armários irem até o chão?), segundo, porque meus olhos são tão ruins que nem enxergo o chão. Quer dizer, se algo cai, fica caído, até o dia da faxineira.
Antes da pandemia, descobri que pedir comida fora saía mais barato que cozinhar. Contudo, agora, foi só lá pelos fins do terceiro mês e quatro quilos a mais, que descobri que comida de fora engorda. E comecei a cozinhar e congelar. Minha comida tem menos de um quarto da gordura das comidas de fora, sem falar que cozinhar é um bom exercício.
Outra coisa que descobri é que fazer puzzles, jogar jogos de números e palavras, é a melhor coisa para não ficar pensando besteira, e manter os neurônios funcionando. Assistir seriados no Netflix continua firme, mas com moderação.
All in all, quando o confinamento terminar (vai terminar?), vou estar em melhor forma do que quando ele começou, e eu podia sair, passear, fazer caminhadas...
E ah, que saudades de bater perna num shopping, comer num restaurante, viajar!
Duzentos e doze dias de confinamento. Cento e dez dias até o Natal.
A cada dez dias, ou algo assim, dou uma corrida ao supermercado, à drogaria e à banca que vende jornal de cachorro. Usando máscara, visor e luvas cirúrgicas. Nesse meio-tempo, passei uma pavorosa noite em um imaculadamente desinfetado hospital para extrair mais um pólipo dos intestinos, sob cuidados máximos. Eu teria me sentido uma rainha, não fosse a fome, a sede e as loucas corridas ao banheiro da meia-noite às cinco da manhã. Mas pelo menos voltei pra casa com dois quilos a menos.
A dois meses atrás, comecei a fazer exercícios. Alongamento, pliés, longs de jambre, a coisa toda. Daí coloco uma música - sábado foi Mussorgky, Picures in Exibition, segunda foram os Noturnos de Chopin – e saio dançando. O máximo que posso, obviamente, sem grands jetés ou piruettes. Imagine a cena: uma senhora de 70 anos, fora de forma (por favor não use a palavra gorda!) dançando A Morte do Cisne... Depois dessa, não olhei mais no espelho. E fecho cuidadosamente as cortinas – vai que algum vizinho, confinado como eu, passe o tempo na janela com binóculos!
O resultado dessa dança toda foi que comecei a ficar em forma. Ter mais ânimo para encher a Brastemp, meter a louça suja na lavadora, juntar livros espalhados, limpar cinzeiros. Pronto. Casa limpa. Esqueça o chão – primeiro, porque não posso me abaixar (e por que, diga-me, eles não fazem os armários irem até o chão?), segundo, porque meus olhos são tão ruins que nem enxergo o chão. Quer dizer, se algo cai, fica caído, até o dia da faxineira.
Antes da pandemia, descobri que pedir comida fora saía mais barato que cozinhar. Contudo, agora, foi só lá pelos fins do terceiro mês e quatro quilos a mais, que descobri que comida de fora engorda. E comecei a cozinhar e congelar. Minha comida tem menos de um quarto da gordura das comidas de fora, sem falar que cozinhar é um bom exercício.
Outra coisa que descobri é que fazer puzzles, jogar jogos de números e palavras, é a melhor coisa para não ficar pensando besteira, e manter os neurônios funcionando. Assistir seriados no Netflix continua firme, mas com moderação.
All in all, quando o confinamento terminar (vai terminar?), vou estar em melhor forma do que quando ele começou, e eu podia sair, passear, fazer caminhadas...
E ah, que saudades de bater perna num shopping, comer num restaurante, viajar!