Crise de pânico matinal por causa materna

Quem leu a crônica intitulada “Oi Luizinho” logo perceberá a ligação entre ambas. A primeira traz de certo modo um pouco de minha infância em suas entranhas. Como dizia um certo programa televisivo do Brasil de anos atrás, as lembranças vieram “direto do túnel do tempo”.

No dia em que vi esta pessoa (na época ainda uma menina/criança) partir da escola sem eu poder ter a oportunidade de uma despedida, tive a primeira crise de pânico da minha vida.

Mais de 20 (vinte) anos depois, já durante o período pandêmico que todos estamos vivendo, em uma manhã qualquer, recebi um e-mail intitulado: “Oi Luizinho”; no e-mail a menina/mulher que foi a mesma que vi partir da escola anos atrás, de mão dada com o pai, segurando a mochila, enquanto ele levava a maldita “Transferência Escolar”; me escreveu coisas tão amáveis e doces, fez alguns comentários sobre o momento atual de sua vida, finalizou escrevendo que em breve nos veremos e “assinou” com seu apelido da escola (confesso não lembrar quem deu o apelido).

Em minha modesta e humilde opinião, ela era a menina mais bonita e mais popular na escola. De certo modo, por “culpa” (no bom sentido) desta pessoa, minha vida é bastante musical; ouço praticamente de tudo: samba, funk, rock, pagode, clássicos, músicas gauchescas (muito comuns no Sul do Brasil) e muito mais. Lembro que quando eu a via chegar na escola, era a certeza de que o recreio/intervalo teria música.

Ela sempre trazia uma fita com músicas de que gostava, com o passar do tempo a fita mudou para CD (acabo de denunciar a minha faixa etária). Ao sairmos para os recreios, uma das pessoas que trabalhava na secretaria, preparava a caixa de som e esperava a trilha sonora.

Lembro que certo dia eu a vi sair da sala dela para o recreio, éramos praticamente os primeiros das respectivas salas, pensei em conversar com ela, no que a vi ser cercada por um bando de puxa sacos, desisti na hora... dias depois ela partiu.

A terceira, e mais recente crise de pânico, foi matinal e de origem maternal (também ligada às outras duas anteriores). Minha mãe e eu estávamos tomando café da manhã e ela (minha mãe) mexendo no celular, na rede social; até que ela parou um pouco, olhou para mim e falou: - “você achou a fulana?”, respondi que não sabia se era, que havia mandado mensagem em modo privado, mas sem uma resposta até o momento e que não lembrava o sobrenome da pessoa.

Minha mãe respondeu com uma calma assustadora que:- "o sobrenome da fulana é este aqui". Quase enfartei ao ouvir a afirmação. Para aumentar ainda mais meu pânico, ela calmamente deu uma ideia: - “escreve uma carta para ela”. Respondi que não tenho o endereço (de fato não tenho), ela então disse: - “vamos pedir para o Senhor fulano de tal fazer a carta chegar até ela”.

Reconheço que a ideia é boa, mas o que minha mãe nem imagina é o turbilhão de emoções e lembranças que causa em mim. Só de pensar em pegar papel e caneta para escrever para ela, tremo mais do que gelatina de comercial de televisão.

Por que será que as mães acham que tudo é sempre tão fácil? Será que elas não se lembram da música que diz que “um joelho ralado dói bem menos que um coração partido”.

Mesmo se eu escrever a carta, ela responderá? Se responder, como responderá? Hoje somos dois balzaquianos, cada um teve caminhos diferentes em suas vidas, e, sinceramente não sei como tudo acabará. Espero que seja um final feliz.

Demétrio
Enviado por Demétrio em 13/08/2020
Reeditado em 05/10/2020
Código do texto: T7034429
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