Ensaio sobre o absurdo II

Mais de 90 mil mortes por Covid no Brasil. Esse número é o aproximado de mortes causadas pela covardia estadunidense no dia 6 de agosto de 1945 em Hiroshima, e supera os números de mortos em Nagasaki após o bombardeio. Pode até parecer insignificante se você está bem e todos da sua família estão saudáveis, mas não são apenas números, são pessoas como eu e você que tinham sonhos, sentimentos, família, amigos, desejos.

Como se não bastasse a crise econômica, política, social, cultural, intelectual, sanitária, veio a pandemia para se unir a essa enorme quantidade de problemas acumulados no país ao longo desses tantos anos de desgoverno e de avanço do neoliberalismo, da anti-ciência, do idiotismo, entre outros produtos e subprodutos nocivos engendrados pelo sistema capitalista.

Vimos a doença se propagando pelos outros países e matando milhares de pessoas. Precisávamos de um líder que guiasse a sociedade em meio a esse sulfuroso inferno de perdas e tristezas, mas o que tivemos foi um idiota que foi contra seu próprio Ministério da Saúde e se ocupou sendo influencer em suas redes sociais pregando a desinformação, ao invés de se mobilizar a favor da prevenção. Tínhamos os parâmetros, o que não tínhamos, e nem temos, é competência do governo vigente.

O que temos é um ser inescrupuloso que disse que tudo não passava de uma gripezinha, que naturalizou as mortes porque “todo mundo vai morrer”, que andou em manifestações burras antidemocráticas (pleonasmo proposital) e que até hoje faz campanha para um medicamento sem eficiência para o tratamento da doença. Quem é ele? Ele é o Capetão Cloroquina, vulgo Messias, o Influencer da República, vulgo Presidente, o maior nome do Poder Executivo.

E assim o caos segue crescente e ainda há os acéfalos que seguem fingindo que está tudo bem. Ainda há uma guerra entre os imbecis da direita contra os idiotas da esquerda. Ainda há uma luta crescente e ideológica fundamentada em notícias falsas e baixarias. A sorte que temos é que ainda restam pessoas sensatas em vários lugares do espectro ideológico, aquelas pessoas que realmente querem fazer algo, que estão fazendo algo além de disseminar ódio e tentar preservar suas convicções sem fundamento.

Embora haja essa faísca no fim do túnel, ou melhor, do esgoto, não estamos muito perto de ficar bem. A média de mortos no país segue numa inércia assustadora, enquanto multidões vão para a praia, para shows sertanejos, para festas em bairros nobres, entre outras aglomerações. Seguimos nossas vidas com o afrouxamento do distanciamento social sob a ilusão de que o pior já passou. Será o novo normal uma inconsequente ilusão?

E assim seguimos com a Covid, com o idiotismo crescente, com violência policial, com o genocídio de negros, de LGBTQ+, com a hipocrisia cristã daqueles que dizem seguir Jesus e que são a imagem do que Ele tanto repudiava. Dessa vez não é impressão minha, estamos todos imersos na maior insanidade do século XXI. A raça humana fracassou e em 2050 quando tivermos mais plástico do que peixes nos mares podemos nos lembrar, se ainda estivermos vivos, que a Ordem e Progresso estampada em nossa bandeira, e as promessas de desenvolvimento em volta do mundo sempre foram grandes falácias que nos influenciaram a acreditar num novo e melhor amanhã. Quando não existir mais uma rica fauna e flora, quando os indígenas forem exterminados para que a agroindústria prospere, quando os céus perderem o seu azul e quando estivermos totalmente doentes e hipnotizados pela tecnologia e seus super estímulos que possamos lembrar que a razão humana foi o maior erro que a natureza cometeu.