Mirradas Lembranças

Desperto na madrugada, olho para o celular cinco horas. Logo, logo finda a madrugada, dando início ao turno matutino. Viu como uma única palavra pode identificar uma era. Antigamente, se eu fosse dar ciência das horas, certamente olharia um cuco, um pêndulo na parede. Hoje o negócio mudou, se quero saber das horas, basta olhar o celular e logo o tempo será informado.
Em alguns momentos, esse despertar é um pouco fantasmagórico. É o horário onde tudo é revelado, caindo-se as máscaras, rompendo se o véu. Na pele, vemos o medo, que vai se aflorando, ficamos plenamente expostos. Oh realidade dura e cruel!
Na mente, sem muita consistência, as lembranças vão surgindo. Vejo um vulto, sei que é de um senhor do Vale do Aço, mas infelizmente foge-me o nome. Disso consigo ainda lembrar, era um senhor muito simpático e educado. Ele tinha vários filhos, mas apenas dois, vêm em minha mente, pelo menos, são reminiscências consistentes: o Edson, rapaz que vivia sempre sorrindo e naquela época trabalhava na Danone. Ele tinha um modo de caminhar, que era imensamente peculiar, só ele caminhava daquele jeito. Ele tinha uma altura mediana, claro, as nádegas e o ventre saliente, cabelos pretos lisos. Sempre que vinha alguém andando rápido, com a boca cheia de dentes arregalada, com a cabeça bem à frente do seu corpo, pode saber, que lá vinha o Edson. Era um sujeito gente boa. Época bem distante, rs, era o ano de 1976.
A sua irmã era a Edna, dela eu lembro perfeitamente. A moreninha do cabelo preto escorregadio. Ela tinha um negócio com seu cabelo. Da turma lá de casa, ela tinha mais afinidade comigo e a Suely. Eu ficava igual um porco-espinho, todo inchado, quando estava perto dela.
Ali da redondeza, só esses dois que lembro consistentemente. Tinha o Carlinhos, que como dizia minha avó: Oh sujeito do cu riscado! O menino era encapetado. A sua madrinha passava aperto com ele, toda hora colocava a boca no trombone procurando o endiabrado, rs. Da casa ao lado da dele, só lembro vagamente do Armênio.
Parece que agora o sono voltou novamente. A alvorada começou, já ouço o cantar dos pássaros e aqui me despeço de vocês com essas mirradas lembranças.

 
Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 31/07/2020
Código do texto: T7021768
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.