Doméstica: Suor a Qualquer Preço
Charlles Nunes

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“"O silêncio é, algumas vezes, mais eloqüente do que os discursos.”
~ Provérbio Árabe

 



Conformação e inquietação. Cumplicidade com a patroa. Descaso. Trabalho pesado. A rotina da doméstica pode variar da água pro vinho, mas uma coisa é certa: no Brasil, o trabalho das empregadas mostra a cara da desigualdade. Ou muitas vezes, esconde.

A força de trabalho das empregadas domésticas – que precisam sobreviver a qualquer custo – muitas vezes perpetua indícios da época da escravidão.

Como em algumas regiões do país tem gente batendo cabeça em busca de emprego, não faltam patroas dispostas a subvalorizar13 a mão-de-obra na hora do contrato.

Das oito às onze, arrumar os quartos, lavar a roupa, varrer a casa. Das onze às duas, preparar o almoço, buscar as crianças no colégio, servir a comida e lavar a louça. Das três às cinco, passar roupa, arrumar a bagunça, limpar o quintal e o jardim. Às cinco em ponto, preparar o jantar, organizar a cozinha e, finalmente, se trocar para sair. Às seis horas, subir num ônibus, ir para casa, arrumar, limpar, cozinhar e cuidar da própria família.

Diariamente, esse é o cotidiano de muitas mulheres que têm dupla missão: cuidar do próprio lar e do "lar postiço". Alívio de muita gente, as empregadas domésticas driblam o tempo para dar conta de todos os afazeres no dia-a-dia. Haja disposição!

Após essa jornada excessiva, sem domingo, feriado ou dia santo – depois de um mês inteiro limpando do teto ao chão, algumas não conseguem levam pra casa sequer o salário mínimo.

Braço direito, amiga, anjo da guarda, secretária do lar... Não importa o título que recebam, há sempre há consenso entre as mulheres que trabalham fora: empregada doméstica não pode faltar!

Apesar da correria, tem empregada que ainda encontra tempo para fazer as unhas, dar um trato nos cabelos, e até freqüentar a academia. No final de semana, dá faxina na própria casa!

Muitas delas vêem os filhos da patroa crescer. E não só vêem, mas colaboram na educação deles também. Os laços afetivos se desenvolvem a tal ponto, que passam a ser vistas e tratadas como membro da família. Não é raro uma patroa tornar-se madrinha dos filhos da empregada.

Se para as que têm carteira assinada a lei assegura as férias e o décimo-terceiro – ainda lhes falta o direito de folgar nos feriados e receber o Fundo de Garantia.

Mas nem tudo está perdido. A saída talvez seja a orientação e a organização, para que a categoria tenha quem a represente perante a sociedade.

Sem voz ativa, o silêncio acaba sendo a única arma desta incansável heroína. Um silêncio que – muitas vezes – acaba caindo em ouvidos surdos...

 


 

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