Palavra Solta – Filozinha e Jureminha

Palavra Solta – Filozinha e Jureminha

*Rangel Alves da Costa

Marquei com Filozinha e tinha de ir. E fui no meio da noite, num breu danado, numa escuridão de fazer faiscar vaga-lume. Tinha que ser assim, por exigência da própria Filozinha. Menina nova, cheirosa, floração sertaneja, mais bonita do que roupa nova. Pediu que eu fosse andando, de modo que nenhum barulho fizesse com que seus pais suspeitassem de minha aproximação. Acertou que a porta da cozinha estaria aberta e que eu podia entrar sem medo, pois ela já estaria me esperando escondida num canto. Marcou hora e tudo o mais. Fogoso, cheio de atrevimento, então segui. Na estrada, depois de uma curva, avistei um estranho que se aproximava, então logo pedi que tirasse uma foto minha, ali mesmo em plena escuridão. Num repente e a foto já estava tirada, mas a pessoa sumiu como se tivesse evaporado no ar. Que estranho, pensei. Segui em frente. Mais adiante avistei a casa de Filozinha. Diminui o passo para não fazer barulho e pé-ante-pé fui rodeando a casa, em direção à porta de trás. Mas ouvi uma voz que me fez estremecer. “Ei moço, vai pra onde assim?”. Era o pai dela com uma espingarda à mão. Então tive que responder: “Nada não, Seu Zé, é que eu tô procurando rolinha fogo-pagô!”. Logo em seguida o da espingarda gritou: “Rolinha venha cá!”. Então Filozinha apareceu meio desconfiada, mas dizendo: “Pai, eu já pedi que não me chama mais de Rolinha. Meu nome é Filomena”. Seu pai disse em seguida: “Tá bom Filozinha, mas sabia que esse moço aí tá atrás de uma rolinha?”. Ainda mais desconfiada, Filozinha falou: “Veio procurar rolinha, Jureminha?”. “E cuma você sabe o nome dele?”, indagou o pai assustado. E a filha respondeu: “Sei pruquê a rolinha dele sou eu, e ele veio me caçar lá no ninho do quarto. E agora o senhor dê licença pra Jureminha passar!”.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com