70- CRONICANDO: A revolução dos despercebidos

Já percebeu como muitas coisas no nosso dia a dia passam despercebidas? Hoje, uma dessas coisas reclamou a sua importância. Estou falando do sapato.

Basta calçar a meia (outro item sem muita importância) e encaixar os pés enquanto desligamos a tv (o controle é também é entregue a própria sorte, mas só até as pilhas acabarem) e atendemos uma ligação (a sorte do celular é o 3G. Se faltar internet vira peso de porta).

Tenho três sapatos ( e já acho muito...). Um social, um esportivo e uma bota. O esportivo está em Picuí, o social- geralmente uso em ocasiões específicas- falta engraxar- e a bota, bem, está encharcada pela chuva de hoje. Resta-me uma sandália havaiana, mas com ela não dá para ir ver o Procurador Federal que nos assessora em questões de contratos e outras demandas burocráticas.

Isso. Estou indo ver o Procurador e não tenho um par de sapatos. A calça consegui. Apesar de quase todas as roupas estarem na casa de Picuí, restou-me uma que comprei no bazar da igreja, uma pechincha de R$ 5,00. Uma camisa estampada com coqueiros (sabia que um dia ela me serviria). Mas, falta-me o sapato. Continuo a procurar até que encontrei algo.

Uma galocha de construção bem velha que usei na época que fazia bicos como servente de pedreiro. Em “condições normais de temperatura e pressão”, não a usaria. Mas, aquela era uma situação excepcional. A calcei e fui ao meu compromisso. Como se não bastasse caiu mais um dilúvio.

Chego à procuradoria. Falo com Angélica, a recepcionista e, para minha surpresa, encontro um amigo (já sabia que ele trabalhava por lá mais ainda não o havia visto). Apresento os motivos que me fizeram estar ali e, em pouco tempo, estou de retirada.

Para aliviar minha tensão, não foi necessário falar com o procurador e tenho quase certeza de que ninguém observou a minha galocha. Na verdade, estou até pensando em usá-la mais vezes.