VIDA EFÊMERA

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Estou cansando. Eu já sinto o peso desse cansaço que me alcançou silenciosamente, e nessa lentidão, sinto que os passos diminuem a cadência ritmica, não há mais pressa para o alongar da passada. O rosto ficou e está mais serio, como se o riso tivesse escapado pelos cantos da boca sem saber mais como voltar ao seu lugar de origem.

Hoje, eu senti um leve tremor nas mãos e foram ininterruptos. Disfarcei para que não deixasse escapar aos olhos dos outros, a percepção desse acontecer que para mim foi muito preocupante e não obstante constrangedor.

Fui ao banheiro, (obedecendo os cuidados principais do caminhar limitando a rapidez dosbpassos) levantei a tampa do vaso e notei que o que eu ia fazer ali, de pé mirando o sanitário, sem perceber eu já havia feito e nem se quer notara.

Olhei-me demoradamente no espelho buscando na imagem refletida, alguém que me ouvisse sem contestação ou excesso de zelo.

Chorei. Sim eu chorei.

Naquele solitário momento, eu precisava fazê-lo como se fosse resolver todos os meus problemas.

Eu nunca tinha me visto chorar tanto, desde o falecimento da minha mãe, e isso se dera ha mais de 50 anos atrás quando eu me coloquei ao lado daquele horrível caixão, sem que ninguém conseguisse tirar-me dali. Eu tinha meus 12 anos quando conheci à morte e dela nao gostei pois isso marcou muito a minha vida com a perda de quem eu tanto amava e dela tanto dependia.

Agora eu estava ali vivenciando a realidade de que estava ficando velho, reconhecendo que era inevitável esse doloroso processo que a partir daquele instante, iria acelerar a sua inóspita presença em mim.

Olhei meus lacrimejados olhos, como se buscasse enxergar a minha alma tentando encontrar o meu alento nem que fosse transitório mas que não condenasse o meu pensar e nem me torturasse tanto. Era assim, era exatamente assim que eu estava me sentindo, um torturado pela vida, que agora viera para cobrar-me o peso do existir ao longo do meu viver, (ao meu ver tão efêmero) ali à questionar-me.

Vovô você taí?

Era a doce voz de Ricardo, o meu quinto netinho a procurar por mim.

Ao ouvir a sua voz, o choro estancou, lavei o rosto e disse:Já vou.

Abro a porta do banheiro ele me olha e dispara: Vovô, voce tava chorando?

Não! Eu estava apenas lavando o rosto.

Nele, e nos outros netos, busco lembrar da minha infância que ficou há quase 70 anos para trás, mas que hoje me trouxera de volta aos áureos tempos que infelizmente sei, jamais retornarão.

De fato, eu estou ficando velho sim, (mesmo que antes não tivera a coragem de encarar essa realidade) mas não vou alarmar isso para que meu tempo de vida não queira apressar os meus passos já cansados.Nao Senhor!

FIM

Carlos Silva.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 03/06/2020
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