Palavra Solta – Dona Domingas e sua almofada de fazer renda de bilros

Palavra Solta – Dona Domingas e sua almofada de fazer renda de bilros

*Rangel Alves da Costa

Como vai, Dona Domingas? Esta senhora, Dona Domingas, certamente é uma mestra na renda de bilros, uma das maiores artesãs de Poço Redondo, no sertão sergipano do São Francisco. Mas ela já não produz mais como antigamente, já não é avistada como noutros tempos tecendo sua arte na calçada do entardecer. O que houve, sim, o que houve, Dona Domingas? Cadê a almofada, cadê a linha, cadê o tamborete, cadê os bilros, cadê os espinhos longos e pontudos de mandacaru, cadê o papelão marcado com linhas perfeitas e motivos floridos? Dona Domingas, bom dia! Cadê a formosura da renda, cadê o prazer pelo ofício, cadê a arte maior nascida de mãos rendeiras? As calçadas adormecem nos silêncios da passagem das horas. Os cantos das salas já não cantam a canção dos bilros. Ainda se faz, mas agora se faz muito pouco. Já não ouço, como noutros dias, o som dos bilros sendo tocados, sendo levados por cima da almofada e tracejando a marcação. Já não vejo a artista dando vida ao seu bem-fazer, bem-criar, bem-gestar os traços do encantamento. As rendas de bilros não podem parar, as rendeiras não podem ser esquecidas, a arte sertaneja não pode deixar de brotar. Que Dona Domingas e todas as rendeiras de Poço Redondo e do sertão, jamais guardem suas almofadas nem repousem em desencanto suas mãos sábias e geniais.

Escritor

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