Quem muito fala, pouco tem a dizer
Oswaldo não estava interessado nem um tiquinho assim que fosse, na vida daquele Maurício, muito menos ainda em toda aquele papo furado, aquela conversinha fiada. Aliás, pelo contrário, estava sim, perguntando tudo aquilo, por mais contraditório que soe, por não ter o que falar! (Porque será que as vezes, quando não se tem muito o que dizer, falasse mais do que se deveria?).
Dizem que as vezes quem muito fala, pouco tem a dizer. Ele e sua língua. Tivesse levado em conta aquele ditado sobre “a boca fechada que não entra mosca”, não teria morrido pela boca, como morrem os peixes. Porém, não fora sua culpa. Naquele dia Maurício o pegara de surpresa. Oswaldo não esperava encontrar ele nem tão cedo. Mas a vida – para não deixar de usar mais um dos benditos ditadinhos que lhe vinha à mente –, tem dessas, “quanto mais se reza, mais assombração aparece”.
Enquanto pensava em todas essas coisas, naquele seu encontro com o Mauricio mais cedo, Oswaldo enrolava uma mecha de cabelo com as pontas dos dedos, mania, ou vicio, que levava as últimas consequências, ao ponto de seu braço ficar dolorido. “Talvez seria o caso de amputar um dos braços ou, quem sabe, até mesmo os dois?”, brincou consigo mesmo. “Se não falava, era porque, como na música, não sabia dizer nada por dizer. Ele também preferia escutar. Manter sua ignorância em segredo, e que o resto ficasse a cargo da imaginação alheio, tanto para o bem, quanto para o mal. Fodam-se”.
Porém, de fato, as vezes acontecia dele ser pego assim, de surpresa, e por algum motivo que não sabia explicar, sentir-se na obrigação de falar, preencher o momento com um assunto qualquer – por mais desinteressante que viesse a ser – na esperança de distrair a situação e de que o embaraço acabasse o mais rápido possível.