DEVE SER BOM MORRER
“Deve ser bom Morrer”
Carlos Silva
Morrer é uma arte. Deve ser bom morrer, ir adormecendo aos poucos achando que vai dormir e que logo logo acordará para enfrentar o mundo com suas vantagens e desvantagens em vivê-lo.
Deve ser bom morrer. Não mais pagarás as dividas (mesmo que carregue pro tumulo o nome de caloteiro, e dai)?
Voce pode até ser um Messias, mas não faz milagres para ganhar dinheiro, né verdade? E dai? Perguntarão alguns que nunca se preocuparam contigo.
As coisas ficarão os amigos aparecerão para consolar os teus parentes que aqui ficarão alimentando (Por um limite de tempo) a tua falta em suas vidas.
Mas será tão bom (mesmo que tu não saibas mais disso) que muitos dirão palavras tão belas ao teu respeito, inventarão historias para extrair risos de quem tiver saco para escutar. Pode até aparecer alguém para perguntar aos teus familiares: E AGORA, QUEM PAGARÁ CONTA QUE ELE TINHA COMIGO?
É nessa hora que já instruir os meus para partir com a resposta pronta: Chegue ali perto do caixão e pergunte a ele. Mas fale baixo pros outros não ouvire a conversa.
Deve ser bom morrer. No velório (Cheio de gente que não cabia mais um pé num centímetro quadrado), alguém ia tecendo comentários se aproveitando da situação ali exposta e dizia: Quantos virão ao velório e ao sepultamento tecer palavras honrosas chorosas e tristes?
O Face book, Instagram. Twiter, caixas de mensagens dos E-mails, Mensagens no Whatsapp, Messenger e os cambal a 30. Nossa! Nossa... como voce era querido, amado, respeitado, admirado, curtido, lembrado, bem quisto, elogiado, preferido, chamado, convidado, destacado. Caramba, estou boquiaberto.
Quanto amor carinho, amizade, respeito, lealdade, fidelidade, ternura, confiança as pessoas tinham e sentiam por voce.
Mas afinal, ele morreu de que? Indagada a viúva e os filhos ali juntos abraçados, cada um ia respondendo mais ou menos assim:
Depressão. Pois há tempos ninguém lhe estendeu a mão em nenhum dos seus projetos.
Ninguém o convidava mais para fazer as coisas que sempre fez quando podia antes do AVC.
Foi secando de tristeza por ter ajudado a tantos e ter se sentido sozinho sem ter um amigo que o amparasse, Morreu de tédio porque nunca pôde contar com apoio e nem ajuda das pessoas que ele tanto ajudara em vida.
Morreu dizendo que daria tudo na vida pra ter um abraço da pessoa que ele tanto admirava como amigo, companheiro de tantas labutas de outrora.
Antes de chegar ao caçula, só restavam a esposa, os 5 filhos, os coveiros e o administrador do cemitério a ordenar: VAMOS ENTERRA-LO. Não sobrou mais ninguém para velar o corpo.
Uma lágrima escorre da face da viúva, ela se dirige ao caixão para dar a ultima olhada no companheiro que dividiram o feijão e o sonho juntos, toca-lhe a testa e diz: Adeus meu amor.
Volta o olhar para os filhos e com a voz triste pelo pesar na alma carregada de tanta tristeza e solidão, ainda arranca de dentro de si forças para dizer com tremendo sarcasmo: DEVE SER BOM MORRER.
Agora compreendo o que ele queria dizer, a todo instante que via um noticiário nas redes sociais, dizendo que alguém tinha morrido, pois a partir dali, eram intermináveis as palavras de elogios ao defunto, que chegava até lhe doer no coração ao pensar de como as pessoas são imediatistas em seus sentimentos efêmeros e medidos do tamanho que querem que os outros vejam o seu sentir.
Sim, AGORA EU CREIO DE VERDADE: DEVE SER BOM MORRER.