LUZES AMARELAS
Quando os Correios subiram para o Cristo Redentor, vi-me impelido a financiar uma casa no mesmo bairro, para morar perto do trabalho e evitar o estresse com o trânsito. O corretor Anchieta levou-me a mim e a Luciene em várias ruas, até nos levar numa em que vimos uma casa com cara de soneto. “É esta!”, disse-me a poetisa.
Na mesma artéria morava um amigo, chefe de divisão do INSS, Marcos Cavalcanti, de saudosa memória! Eu era coordenador comercial dos Correios e, por força das duas instituições serem parceiras, estávamos sempre em reuniões. Antes de fechar a compra, perguntei a Marcos: - Parceiro, tem algum problema na sua rua, do tipo enchente? “Absolutamente!”, respondeu-me. “As sarjetas funcionam muito bem!”
Marcos e Carlos eram dois vizinhos espetaculares. Sentavam-se, com regularidade, no projeto de praça da rua, para bebericarem e declamarem poemas. Um dia juntei-me a eles, para declamar uns poemas de Severino Dias. Indagaram-me se estava gostando? Amando, respondi. Árvores no projeto, sem casas na frente, situação que oferece um boa brisa, proximidade com o Jardim Botânico... Mas há algo de que não gosto: as luzes bruxuleantes.
- “Ora, poeta, tu és do interior!”, afirmou um deles. Eu ia responder que Itabaiana teve luz elétrica e água encanada antes da capital, mas podia parecer empáfia.
Na ocasião resolvi o problema, pelo menos na frente da minha casa: fui na Maciel Pinheiro, comprei um poste com dois globos, pus lâmpadas fortes e brancas e pronto!
Quase 20 anos depois é que chegou a praça, com luzes tão potentes que a noite parece ser dia. Infelizmente Carlos e Marcos partiram antes para a outra dimensão.
Hoje saí cedinho e vi que as luzes potentes e brancas estavam apagadas, mas as lâmpadas amarelinhas continuavam acesas, talvez por conta do tempo nublado, chuva 40%, umidade 80% e vento 16 km/h.
E eu nem sei o porquê, mas me deu uma saudade do tempo em que eram apenas as lâmpadas bruxuleantes.