O ESPÍRITO DA POESIA

Outro dia, em um programa de entrevistas na televisão, ouvi um pseudo-intelectual, afirmar que no Brasil tem poetas demais.

Ora, acho que ele foi infeliz em sua observação. Se ele disser que nesse país há muito ladrão, muito político corrupto, muita puta, muita miséria, eu poderia até concordar com ele. Embora, ele estivesse apenas constatando um fato óbvio.

Mas, os poetas, os poetas não...! Eles descansam dos aturdimentos cotidianos, dão ingenuidade, dão esperanças, põem nas almas aflitas um pouco de paz, um pouco de sonhos. As vozes dos poetas são, dentro do tempo, as vozes que sobem, eternas. A poesia nos dá sentido, mas digo isso apenas por paixão.

Aqui, apenas aqui, estou defendendo uma posição jamais tomada pelo simples prazer de defender posições com palavras, pois as palavras se encontram naquela parte da mente onde estão os homens da terra.

Não é mais necessário discutir poesia. Mesmo que haja uns homens contra outros homens, não podemos sair daqui, é mais válido cultivar a memória, para isso a poesia se faz.

Pouco interessa se é moderna ou não, se é rimada ou não, se é romântica ou não, se é métrica ou não, se é ou não poesia. Não me perguntem o que importa - isso não importa. Faltei ao dia do meu batismo. Lirismo na veia, fosse a prosa em pó eu a comeria feito farinha. Não sei bem quanto já escrevi, nem quando, nem como. Mijo no pé desse muro branco que é esta página, com um desdém rebelde, porém inocente.

Os intelectuais atuais supõe que a insegurança e o insucesso decorre da mediocridade do século. E é o inverso, a mediocridade decorre da indisposição do intelectual para acolher os novos anseios da humanidade. Pois nosso século (XX) nunca foi tão clamoroso. Falta tempo para estar em todas as suas nuances. Chega de conservação! O silêncio basta para os museus. O homem moderno é explosivo, seja pela bomba ou pela liberação da energia corporal. A miragem já não cabe ao lado do homem, que não quer chegar pela via do engano ou mesmo por atalho, mas pelo primeiro passo.

Poderei não atear fogo no mundo com a minha poesia, mas poderei acender uma chamazinha de desejo e sanha, que não consegui por palavras outras, não tão bem ditas na mudez do ato.

O mundo é o que é, sons, imagens, terremotos, o que resvala. A palavra, a poesia - apenas o supra-sumo. Ou o supra-senso, né Guimarães Rosa?

"Salve lindo poema da esperança.

Salve versos ao gosto da paz..."

T@CITO/XANADU

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 17/04/2020
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