Minha preta
À noite, por volta das 8, quando as ruas estão menos movimentadas, eu tenho saído com a minha preta para umas voltas pelo bairro. Minha preta não é das mais resistentes, ela sofre um pouco nessas caminhadas, mas, se contrapondo a isso, costuma receber muitos olhares de admiração, não tem quem não comente a respeito da sua beleza quando passamos. Aliás, dizem também que ela é a minha cara, que nascemos um para o outro.
Como isso me sucedeu, eu não sei. Logo eu, que até pouquíssimo tempo atrás, era um dos que debochava dessa história de amor à primeira vista, contudo, quando eu a vi pela primeira vez naquele site, mudei drasticamente de ideia. Viktor Frankl estava certo, o amor realmente move montanhas.
Custou caro conquistá-la, e por conta da sua fragilidade, é quase certo que nosso relacionamento não vá muito longe, porém, está valendo cada gota de suor que tive que derramar para tê-la. Eu simplesmente adoro ficar olhando para ela encostada na parede aqui do meu quarto – a exibida. Adoro cavalgá-la. Adoro passear com ela por essas noites pandêmicas desses nossos tempos atuais.
Obviamente que, apesar de não sermos do grupo de risco, nós mantemos a distância necessária das demais pessoas, para não pegar ou quiçá espalhar a contaminação da Covid-19. Somos governados pelo bom senso, pois se fossemos depender da sensatez do governo de um certo Presidente da República, era melhor Jair preparando o caixão...
Minha preta é bem parecida com uma daquelas Magrelas da década de 60. Modelo cuspido e escarrado, aliás. O Guidão, o banco, as rodas, os pedais, tudo. “Great design, Classique Bicycle”. Replica idêntica daquele ano de 1964.