Estamos preparados para educar os filhos nesse mundo tecnológico?


O mundo em que vivemos passa por transformações intensas, em todos os sentidos: tecnológicas, ambientais, demográficas, sociais, culturais, político-legal, etc. 


O americano Jeremy Rifkin, um dos cenaristas mais conhecidos, autor dos best-sellers “O Fim dos Empregos” e “O Século da Biotecnologia”, em recente artigo, discorreu que as mudanças ocorridas, nos últimos 20 ou 30 anos, foram mais intensas do que tudo já acontecido na história da humanidade. Disse, ainda: “E o que virá pela frente, será muito mais intenso... não sabemos onde isso vai dá!”.

Realmente, vivemos num mundo de profundas transformações e grandes incertezas. Será que estamos preparados para isso? Será que estamos seguros sobre a forma adequada de educar nossos filhos, nesse mundo tecnológico?

A 4ª Revolução Industrial se encontra em altíssima velocidade, transformando radicalmente a vida das pessoas  e da sociedade em geral – robôs integrados em sistemas cyberfísicos estão incorporados à tecnologia nas empresas de ponta. Tal fato, vem ampliando assustadoramente a produtividade empresarial, a produção de bens de consumo duráveis... especialmente os eletrônicos. Por isso, a todo instante, surgem produtos... cada vez mais sofisticados e inovadores.

Os experts, nessa temática, entendem que há convergência de três vértices importantes: tecnologias digitais, físicas e biológicas.

Isso facilitará a vida das pessoas com relação à longevidade de suas existências. Muitas doenças que, atualmente, nos causam problemas, serão conhecidas mais profundamente. Com isso, a cura estará ao alcance, em breve. O câncer, por exemplo, tem seus dias contados, preconizam cientistas. Espera-se, em pouco tempo, que a expectativa de vida das gerações futura atinja emblematicamente os 100 anos.

No campo da tecnologia da informação, percebemos que a comunicação se tornou mais ágil e fluente. O celular passou a ser um aparelho de recursos inesgotáveis. Hoje, gratuitamente, em muitas mídias sociais, conversamos com pessoas em qualquer lugar do planeta... ouvindo e vendo ao mesmo tempo (pasmem!). Que maravilha!

O fato é que tudo fica mais simplificado, em se tratando da produção de bens e serviços. Inegavelmente a comunicação eletrônica facilita a vida das pessoas, num certo sentido: barreiras de tempo e distância são transpostas pela utilização contumaz da comunicação virtual.

Mas, há que se considerar os efeitos colaterais, oriundos desse processo. Sim, eles existem e estão visíveis aos olhos de todos!

As cidades crescem sem planejamento... incham. Tornam-se caóticas e inabitáveis, sob a ótica do bem-estar e da qualidade de vida. Vencer distâncias físicas, passou a ser uma aventura diária... nem sempre bem-sucedida, complicando a mobilidade das pessoas.

Os empregos mais escassos, visto a contínua inserção de novas tecnologias... máquinas, robôs e softwares, cada dia mais presentes na indústria, no setor primário e nos serviços.

A violência urbana campeia sem controle. Nos tornamos reféns em nosso próprio habitat... os nossos lares. São cidades assustadas pelo medo e dominadas pelo crime organizado.

Os espaços diminuem e nossas crianças mal-vivem aprisionadas em apartamentos... ou perambulando em shoppings, viciadas em jogos eletrônicos e navegando numa internet sem controle.

Essa revolução da informação e do conhecimento, alicerce do processo de Globalização, pulveriza as culturas locais e regionais. Por conta disso, as novas gerações estão perdendo o apego em relação às origens... pior: à própria família.

Os costumes se modificam, rapidamente. Valores que foram transmitidos pelos nossos pais, caem por terra, dia após dia.

Sinceramente, diante dessa situação, confesso que não sei como me posicionar. Tenho muitas dúvidas sobre a educação que dou aos meus filhos... ou em relação aos valores que tento disseminar em sala de aula, na condição de professor.

E, para ilustrar a minha falta de traquejo e insegurança com tais mudanças comportamentais, relatarei algo ocorrido há uns 10 anos... mas, que, não me sai da cabeça, até hoje.

Era fim de semana, mês de fevereiro. Estava em minha casa, orientando uma dissertação de mestrado de aluno da Universidade Federal de Pernambuco, visto sua pesquisa de campo ter sido realizada em Teresina.

Absorto com a leitura dos seus apontamentos, voltei à realidade com uma pergunta formulada por minha filha... possivelmente tivesse 11 ou 12 anos, à época. “Pai... o que é sexo virtual?”.

Tomei um susto. Fiquei boquiaberto. Creio ter demorado alguns instantes para entender a gravidade de minha desconfortável situação. Pedi para ela repetir a pergunta... e ouvi, novamente: “Pai... o que é mesmo sexo virtual?”.

Olhei para o meu orientando... depois, repetidas vezes, minha filha. Confesso que não sabia o que dizer. Como satisfazer sua ansiedade, legítima, de quem estava descobrindo o mundo?

Resolvi investigar qual a origem daquela curiosidade. Lembro de ter indagado... “Filha... onde você viu isso?”.

Ela, prontamente, andou alguns passos e voltou com um livro nas mãos: paradidático, adotado por sua escola, cujo título fundamentava sua pergunta.

Criei coragem e... a minha maneira, tentei explicar do que se tratava. Não sei precisar, mas, passei longo tempo falando sobre o que era algo “virtual” e disponibilizei alguns segundos para o significado de “sexo”. Concluída a minha malfadada explicação, indaguei-lhe: “Minha filha entendeu?”.

Ela me olhou, meio que assustada com aquele discurso vazio... “Mais ou menos!”, murmurou baixinho. E saiu ao encontro da mãe, na sala ao lado.

Atônito e constrangido... ouvi quando disse em tom de decepção: “Não sei como dizem que meu pai é bom professor... perguntei para ele o que era ‘Sexo Virtual’... ele falou, falou, falou e não entendi nada!”.



 
Post Scriptum



Educar filhos, nos dias atuais, não é das tarefas mais fáceis. A presença contínua da televisão e, especialmente, da internet, sem controle sobre informações que crianças e adoslescentes recebem, podem influenciar negativamente na formação da personalidade em construção.

Por outro lado, não é possível deixar de estabelecer contatos com o mundo virtual, afinal, grande parte da vida da maioria dos seres humanos, diariamente, é ligada à rede mundial de computadores.

Como dosar essa situação? Como estabelecer controle equilibrado na educação dos nossos filhos? O mundo competitivo e tecnológico não permite analfabetos funcionais.




 
Texto reeditado
 
 
Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 09/04/2020
Reeditado em 09/04/2020
Código do texto: T6911171
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