CAPITÃO DO MATO TAMBÉM É ESCRAVO, MESMO QUE NÃO SAIBA
CAPITÃO DO MATO TAMBÉM É ESCRAVO, MESMO QUE NÃO SAIBA
Mais uma vez voltaremos nossos olhares para a história da humanidade, onde os reis, imperadores, sheiks, rajás, caciques, pajés, rabinos, faraós, califas, sultões, cãs ou papas, sempre tiveram seus "cães de guarda". E no Brasil, com seu histórico de senhores de engenho, os quais também foram conhecidos como Senhores da Casa Grande, num contraponto com a Senzala, em que ficavam os escravos, haviam os capitães do mato, que às vezes eram chamados de capataz.
Todavia, essas funções mais grotescas nunca foram desempenhadas pelos participes das cortes reais, mas eram atividades normalmente que só cabiam aos escolhidos como servos fiéis, ou escravos mais devotados aos seus amos, seja por laços carnais, como no caso dos filhos de escravas que satisfaziam sexualmente os seus senhores e senhoras, ou até a ocultos laços de homossexualidade, quando não por meras regalias que eram usadas como barganha, para que dentre os escravos, uns poucos fossem sacados das correntes ou funções mais grotescas, para servirem de carrascos a serviço dos seus mestres, evitando assim que os mesmos sujassem suas mãos com sangue.
Contudo, nenhum desses estratagemas conseguiu ressignificar o ranço primordial da escravidão, pois os carrascos ou os capitães do mato sempre foram tratados como uma subclasse dentro da sociedade em que estiveram inseridos, mesmo que eles mesmo não se vissem como tal. Mas, para a classe dominante, com certeza eles não eram também dignos de apreço, mas apenas reconhecidos como necessários para a manutenção do sistema escravocrata, controlando pelo chicote ou pelo puro temor, a massa escravizada das senzalas.
E o que temos nos tempos modernos é uma nova ordem social, mas que não deixa de se mostrar estigmatizada pelas feridas de outrora, insistindo em manter a desigualdade dos grupos oriundos do período nefasto da escravidão, a qual nem mesmo podemos ter certeza que foi abolida. Pois o que se vê na prática são as mesmas casas grandes cercadas pelas senzalas, onde as primeiras são os ricos condomínios, prédios e mansões, bem protegidos pelos modernos capitães do mato, que mantem a elite moderna afastada das favelas, palafitas, guetos e sarjetas, barracos ou pilastras, onde sobrevivem os que nunca tiveram realmente a chance de subir os degraus da escada que liga o fosso profundo da miséria aos jardins suspensos das babilônias, como vemos na Avenida Paulista, no centro mais populoso do Brasil, em que até sobre um prédio nasce um grande jardim, como se fosse uma analogia com a pujança alcançada pelos babilônios em primazia aos demais povos subalternos da antiguidade.
E o sistema se perpetua num País que prefere investir mais em presídios do que investir em escolas; Que prefere fazer hospitais e postos de saúde mau aparelhados ou sem profissionais capacitados, do que investir em saneamento e água tratada; Que insiste em manter um coronelato político cheio de regalias, quando Roma, nos tempos de Cícero, César e Augusto, tinha dois mil funcionários públicos para um milhão de habitantes e já era taxada como perdulária nos gastos públicos; Que não beneficia o que produz, apenas para satisfazer a essa corte, como faziam os portugueses da corte joanina, só exportando matéria prima em troca de espelhos, badulaques, tecidos e especiarias; Que prefere investir em rodovias e automóveis, ao invés de investir em ferrovias, portos e aeroportos; Que não usa o seu potencial para se impor perante o mundo, já que é detentor do maior potencial de riquezas minerais, agrícolas, pecuárias, climáticas, energéticas, além de um povo mesclado, inteligente e capaz de galgar quaisquer pódios que se mostrem em disputa.
Afinal, não podemos esquecer de Santos Dumont, de Vital Brazil, Ruy Barbosa, Castro Alves, Bartolomeu de Gusmão, Barão de Mauá, Manuel de Abreu e tantos outros anônimos que fizeram a diferença por onde passaram, como os músicos, escritores e poetas, como Baden Powell, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Belchior, Manuel Bandeira, Euclides da Cunha, João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Morais, Caetano, Cazuza e Renato Russo, dentre tantos outros imortais.
É esse o Brasil que precisamos resgatar, onde teremos um espelho para narciso apreciar e fazer com que todos nós nos enxerguemos como capazes de tornar o mundo mais aprazível para todos nós vivermos.
Publicado no Facebook em 19/06/2018
Mais uma vez voltaremos nossos olhares para a história da humanidade, onde os reis, imperadores, sheiks, rajás, caciques, pajés, rabinos, faraós, califas, sultões, cãs ou papas, sempre tiveram seus "cães de guarda". E no Brasil, com seu histórico de senhores de engenho, os quais também foram conhecidos como Senhores da Casa Grande, num contraponto com a Senzala, em que ficavam os escravos, haviam os capitães do mato, que às vezes eram chamados de capataz.
Todavia, essas funções mais grotescas nunca foram desempenhadas pelos participes das cortes reais, mas eram atividades normalmente que só cabiam aos escolhidos como servos fiéis, ou escravos mais devotados aos seus amos, seja por laços carnais, como no caso dos filhos de escravas que satisfaziam sexualmente os seus senhores e senhoras, ou até a ocultos laços de homossexualidade, quando não por meras regalias que eram usadas como barganha, para que dentre os escravos, uns poucos fossem sacados das correntes ou funções mais grotescas, para servirem de carrascos a serviço dos seus mestres, evitando assim que os mesmos sujassem suas mãos com sangue.
Contudo, nenhum desses estratagemas conseguiu ressignificar o ranço primordial da escravidão, pois os carrascos ou os capitães do mato sempre foram tratados como uma subclasse dentro da sociedade em que estiveram inseridos, mesmo que eles mesmo não se vissem como tal. Mas, para a classe dominante, com certeza eles não eram também dignos de apreço, mas apenas reconhecidos como necessários para a manutenção do sistema escravocrata, controlando pelo chicote ou pelo puro temor, a massa escravizada das senzalas.
E o que temos nos tempos modernos é uma nova ordem social, mas que não deixa de se mostrar estigmatizada pelas feridas de outrora, insistindo em manter a desigualdade dos grupos oriundos do período nefasto da escravidão, a qual nem mesmo podemos ter certeza que foi abolida. Pois o que se vê na prática são as mesmas casas grandes cercadas pelas senzalas, onde as primeiras são os ricos condomínios, prédios e mansões, bem protegidos pelos modernos capitães do mato, que mantem a elite moderna afastada das favelas, palafitas, guetos e sarjetas, barracos ou pilastras, onde sobrevivem os que nunca tiveram realmente a chance de subir os degraus da escada que liga o fosso profundo da miséria aos jardins suspensos das babilônias, como vemos na Avenida Paulista, no centro mais populoso do Brasil, em que até sobre um prédio nasce um grande jardim, como se fosse uma analogia com a pujança alcançada pelos babilônios em primazia aos demais povos subalternos da antiguidade.
E o sistema se perpetua num País que prefere investir mais em presídios do que investir em escolas; Que prefere fazer hospitais e postos de saúde mau aparelhados ou sem profissionais capacitados, do que investir em saneamento e água tratada; Que insiste em manter um coronelato político cheio de regalias, quando Roma, nos tempos de Cícero, César e Augusto, tinha dois mil funcionários públicos para um milhão de habitantes e já era taxada como perdulária nos gastos públicos; Que não beneficia o que produz, apenas para satisfazer a essa corte, como faziam os portugueses da corte joanina, só exportando matéria prima em troca de espelhos, badulaques, tecidos e especiarias; Que prefere investir em rodovias e automóveis, ao invés de investir em ferrovias, portos e aeroportos; Que não usa o seu potencial para se impor perante o mundo, já que é detentor do maior potencial de riquezas minerais, agrícolas, pecuárias, climáticas, energéticas, além de um povo mesclado, inteligente e capaz de galgar quaisquer pódios que se mostrem em disputa.
Afinal, não podemos esquecer de Santos Dumont, de Vital Brazil, Ruy Barbosa, Castro Alves, Bartolomeu de Gusmão, Barão de Mauá, Manuel de Abreu e tantos outros anônimos que fizeram a diferença por onde passaram, como os músicos, escritores e poetas, como Baden Powell, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Belchior, Manuel Bandeira, Euclides da Cunha, João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Morais, Caetano, Cazuza e Renato Russo, dentre tantos outros imortais.
É esse o Brasil que precisamos resgatar, onde teremos um espelho para narciso apreciar e fazer com que todos nós nos enxerguemos como capazes de tornar o mundo mais aprazível para todos nós vivermos.
Publicado no Facebook em 19/06/2018