AINDA ME CONSIDERO UM ESCRAVO
AINDA ME CONSIDERO UM ESCRAVO
Vamos viajar um pouco no tempo, lembrando não de 13 de maio de 1888, mas olhando para a história humana mais regressa, decantada em prosas e versos como a conquista da hegemonia humana sobre as demais espécies animais, sejam vertebrados ou invertebrados, sejam répteis monumentais ou mamíferos de toneladas, incluindo os primatas como um todo, que viram a nossa mais recente etapa, dos homo sapiens sapiens, se investirem da coroa do trono terráqueo.
Se me permitem usar da inquietude natural dos vorazes questionadores de tudo, que são os taurinos com ascendente em peixes e com seu oposto em escorpião, posso aqui dizer que o homem, e isso é bem explicito, pois não se trata apenas de dizer Ser Humano, mais do que a mulher, sempre carregou o estigma dos outros primatas, em que os machos mantinham o controle dos grupos sociais pela força, muito mais do que pelo exemplo ou qualquer atitude de carinho que pudesse expressar para com suas companheiras e suas crias.
E esse atributo da força, que tem suas raízes na formação óssea e muscular de ambos os gêneros humanos, pois o cóccix da mulher tem uma estrutura voltada para a gestação dos fetos, enquanto o mesmo cóccix masculino tem outro forma, que juntamente com a estrutura torácica e muscular, privilegiam um maior desempenho de uma estratégia de conquistar espaço, enfrentar outras espécies animais e também desempenhar a função de caçador, que foram atribuições marcantes na pré-história humana e mesmo quando já desenvolvíamos estruturas sociais que vieram a nos distanciar sobremaneira de todos os outros seres sobre a face da Terra.
Esse temperamento agressivo deixou suas marcas no caráter do homem, que não se satisfaz apenas em dominar o seu clã, muito embora, nos nossos momentos primordiais na história, haja a plena convicção de que por muito tempo houve o predomínio do matriarcado, o que era bem natural, visto que ao macho cabiam funções guerreiras, de caça e pesca, mas que não lhes permitiam perder seu tempo com as atividades sociais dos grupos humanos, que sabiamente foram abarcados pelas mulheres, que tinham também a função de instruir, cuidar, preparar o alimento e zelar pela saúde dos mais jovens.
E esse caráter veio de encontro ao poder do matriarcado, à medida em que os grupos conseguiam se estabelecer com mais segurança em relação ao conflito com as intempéries e as feras e animais peçonhentos, assegurando que gradativamente o homem se impusesse pela força bruta e tirânica ao domínio dos grupos humanos, sejam de clãs ou grupos de clãs, onde se formaram as primeiras cidades estado do mundo, que foram os embriões para os primeiros reinos e impérios, como Ur na Caldeia ou Babilônia no vale do rio Eufrates, dentre tantas outras que até hoje são famosas.
E esse domínio não se limitou ao quesito de comando, simplesmente, mas derivou para a formação de elites sociais, que queriam a perpetuação dos seus descendentes.
Para tanto, foram desenvolvidos todo tipo de subterfúgios para garantir a manutenção do poder, mesmo quando esse homens másculos primordiais já não eram gerados com os mesmos atributos de seus ancestrais. Daí vieram as estratégias de dominação que buscaram a aceitação dos demais com o amparo de significações e simbolismos para convencer a todos de que se deveriam deixar dominar, por pura persuasão e ações carismáticas, mas também com a formação de grupos de intimidação, de onde derivaram os exércitos, as religiões e todas as instituições que serviram sempre aos que já dominavam os grupos pela força.
Nos tempos de hoje, depois de tanto se enfrentarem os povos, nos ciclos de poder que se alternaram ou se substituíram, onde tivemos impérios de longa duração, como foi o exemplo do Império Romano, os grupos humanos buscaram relações mais identitárias, com base em heranças genéticas, étnicas ou até religiosas para formar suas nações, e não mais baseados apenas no poder central de uma cidade estado, como foram Roma, Atenas, Tróia, Cartago, Jericó, Esparta e tantas outras urbes.
Assim surgiram os países, que mesmo sobre denominações de reinos, como se pertencessem a uma única família com atribuições reais e divinas, se desdobraram em inúmeros espaços, que hoje formam a união das nações (U.N., em abreviação inglesa), a qual, mesmo com todo desenvolvimento filosófico, sociológico e de criação de estamentos legais para normatizar as relações entre as pessoas e povos, perpetua as antigas relações de poder, onde o ser humano ainda se volta contra si mesmo, escravizando seus semelhantes, de modo explicito em alguns lugares ou de forma velada em outros espaços e nações, imputando-os o que se convencionou no ato de se apropriar da mais valia de cada pessoa. Ou seja, perpetua-se as condições de escravidão, onde há concentração de riquezas e de benefícios para uns poucos, em detrimento da maioria da população mundial, que trabalha não só para subsistir, mas para sustentar o ócio dos que detêm o poder.
Tudo o mais que se praticam é em nome desse decantado poder, sejam as guerras que nunca cessaram, os conflitos religiosos, os grupos que acham ter o direito de supremacia sobre outros grupos, e por aí vai, numa política podre, em que a sociedade está cada vez mais inconsciente do que acontece nos palácios e no submundo das organizações mundiais, que se formaram a partir do momento em que o homem descobriu que pode controlar outro homem sem precisar usar simplesmente da força bruta, mas com o uso de inteligência e astúcia, mantendo escravos que não se acham escravos, mas trabalham como escravos sem se aperceberem das circunstâncias que estão subentendidas ou planejadas de modo maquiavélico.
Por tudo isso é que "ainda me considero um escravo", mesmo já tendo despertado do torpor que tentam impor a todos, que já não possuem senso crítico para abrir os olhos e enxergar o que realmente acontece, nem imaginam o que realmente está atrás das cortinas do teatro social, ou do lixo que é puxado para baixo dos tapetes por onde andamos.
Publicado no Facebook em 22/05/2018