QUANDO O POVO DEVE SE ENVERGONHAR DAS SUAS FORÇAS ARMADAS?

QUANDO O POVO DEVE SE ENVERGONHAR DAS SUAS FORÇAS ARMADAS?

Em todos os lugares do mundo se convencionou que suas forças militares, ou seus exércitos desde outrora, que tiveram incorporados a marinha e, no último plus histórico, a aeronáutica, devem servir ao poder constituído, mas com o intuito maior de proteger o território de uma nação e seu povo, respondendo exclusivamente pela defesa contra agentes externos.

No início a segurança interna e externa eram acumuladas pelos militares. Todavia, com o avanço institucional das nações, houve a separação desses deveres constitucionais, e foram criadas forças policiais para exercer a denominada Segurança Pública.

A diferença mais evidente é que os soldados militares são treinados com o foco na defesa intransigente dos limites territoriais da nação, usado de força proporcional à que deve contrapor, mas também respeitando regras internacionais no trato de prisioneiros ou no enfrentamento de civis.

Mas, a bem da verdade, eles são treinados para matar, embora seja esse o efeito secundário que deveria ocorrer, já que o primário é repelir possíveis invasões ou conflitos, que devem prioritariamente serem evitados pela negociação e harmonização dos interesses em discussão.

Já as atribuições das forças policiais, que podem ser militarizadas ou civis, têm seu cerne na defesa da vida e do patrimônio, seja este público ou privado, contra ações aceitas como criminosas, praticadas por quem quer que seja.

Entretanto, em muitos lugares do mundo, algumas forças militares, e até policiais, se uniram para perverter essa lógica do legalismo internacionalmente aceito em tratados e na carta constitutiva da U.N (United Nations), chamando para elas as atribuições de gerir seus estados nacionais pela imposição da força bruta das armas e da restrição da liberdade de seus próprios povos.

Muitas das vezes esse tipo de absurdo é resultado de acordos com grupos políticos ou econômicos, que se locupletam juntamente com o stablishment militar. E, embora sempre se divulguem propagandas de que isso ocorre por riscos iminentes à segurança nacional, são atos premeditadamente voltados para os interesses pessoais de indivíduos ou grupos políticos, econômicos, étnicos, religiosos ou doutrinariamente xenófobos.

Aqui no Brasil, quem nasceu entre o final do século XIX até a 7ª década do século XX teve a experiência real de lidar com inúmeros momentos em que as liberdades individuais foram cerceadas por períodos ditatoriais.

Eram momentos em que a tecnologia de áudio e vídeo para se flagrarem as aberrações praticadas ou até atos ilícitos, em que os autores tirassem proveito, era bastante primitiva ou inacessível, facilitando a ocultação ou a comprovação das eventuais e corriqueiras práticas do que fosse ilegal ou inaceitável moralmente.

Seja na República do Café com Leite, na Era Vargas, na Ditadura de 1964, ou nos períodos intercalados, sempre houve uma elite viciada nos benefícios sujos do poder. E essa elite se aproveitou sobremaneira do baixo índice educacional e financeiro do povo em geral, inoculando uma propaganda enganosa da realidade, como a justificar até pelo lado divino, a manutenção de um esquema disfarçado de castas sociais, perpetuando o racismo e tantos outros defeitos do caráter humano.

E esse vírus entranhado no caráter do povo brasileiro foi tão eficaz que mantém seus efeitos até os dias atuais, com pessoas e grupos a se enfrentarem verbalmente por conceitos e preconceitos que já deveriam estar vencidos. Afinal, nesse último domingo, 13 de maio de 2018, completamos 130 exatos anos de uma atitude corajosa da virtuosa Princesa Isabel, que assinou num também domingo, do ano de 1888, a conhecida mas nem sempre cumprida Lei Áurea, que de modo oficial, mas não categórico ou prático, aboliu a escravidão no Brasil, seguindo uma tendência mundial, após a revolução francesa, de 1789, que tinha como estandarte o lema "Liberté, Egalité, Fraternité!".

São ações racistas cometidas de modo até inconsciente não só pelas elites, mas até pelos próprios afetados por essa política velada, a todo momento. Muitas das vezes, isso decorre da falta de memória social, pois o brasileiro não cultivou a preservação da sua história.

Isso faz com que nem saibamos quem foram nossos antepassados, até mesmo os mais recentes, nos induzindo a valorizar um padrão étnico europeizado, sem realmente nos reconhecermos um povo mesclado, tanto na cor da pele, como nas origens ancestrais e nos nossos índices de melanina.

E nos deparamos hoje com verdades que não conseguem ser escondidas para sempre. Verdades que retratam os fatos mais bestiais dos momentos de exceção política, e que vêm à tona para descobrir as atrocidades perpetradas pelos torturadores travestidos de legalistas, que matavam, estupravam e se bestializavam, acobertados pela farda militar.

Isto vem numa hora bastante propicia, pois estamos às vésperas de uma eleição de gestores públicos e legisladores. E será um momento crucial para repensarmos o que realmente queremos para o nosso futuro como nação.

Devemos aproveitar o embalo, das lava-jatos da vida para lavarmos a alma do povo brasileiro, reorganizando a tudo e nos livrando de todos esses carmas, para reconstruirmos nosso orgulho e nosso civismo com bases mais éticas, com respeito à dignidade de todos os seres humanos, inflados de bom caráter e boa conduta, sem termos que sentir vergonha de nossas forças armadas, que são constituídas também por cidadãos brasileiros, e assim eles tem que se reconhecer primeiramente.

Publicado no Facebook em 14/05/2018