O ESTUDO DE IDIOMAS

Sempre achei importante e agradável o estudo de outras línguas, mas não é coisa tão simples assim. Por exemplo, eu nem sei ao certo se falo o teu idioma e se tu falas o meu, o que pode gerar confusão. Não se trata apenas do puro vernáculo, mas de expressões peculiares, como gírias – que se espraiam mais do que o Corona Vírus, com mutações a cada lustro. Sim, quando eu digo que comi à baloque, significa que comi às pampas, aos montes, sacou? Se vou lagartear na praia, quer dizer que me vou estarrar ao sol, o que, aliás, não me agrada nada. Quando digo que o frio é de renguear cusco, quero expressar que é de lascar. Se resolvo comer um farroupilha- naturalmente com cacetinho, mortadela e manteiga - não tem nada a ver com xis ou bauru. Nada melhor do que um grostoli depois, a título de sobremesa. Tu também podes chamar grostoli de cueca-virada, sem problema. Nos aniversários, especialmente de crianças, abundam negrinhos e branquinhos; cachorro-quente é coisa universal e há seguidamente espetinhos de xixo, que são uma delícia. Tu podes mandar um abraço cinchado para os amigos, sendo que, nestes tempos de quarentena, prefiro dizer abraço entrincheirado. Se alguém te conta algo intrigante, tu geralmente reages, indagando “Capaz?”. Nos findis, tu te dedicas aos piás, pois os guris da tua ninhada querem mais é se esbaldar, alguns com muita fome de bola. Quando te atucanam demais, uma boa putchada resolve. As gurias, em parte, são mais prendadas, mas os tempos mudam e a coisa toda anda parelha: cara d’um, focinho d’outro. Eu ainda me refiro a pechada de carros, a trânsito atrolhado, a motorista facão, aos detestáveis motoristas chapeludos de domingo - no sentido de que são barbeiros. Mas, em pouco tempo, aqueles bem brasileiros não ficam encafifados e acabam matando a pau.