Um domingo de quarentena
E agora me pego pensando em duas canções que falam da solidão. Uma do Arnaldo Arnaldo Antunes que diz:
"Quando estar sozinho
Ficar sozinho
E só
E só
Ficar sozinho
Quando estar sozinho".
E outra do Renato Russo que afirma:
"Diga o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imenso em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de atenção”.
E agora estamos aqui, nesse domingo que não tem fim, nessa solidão forçada, trancados entre 4 paredes e quase mergulhados na incerteza das coisas.
Como não pensar em pirar com tudo isso? No fundo, muitos temiam estar diante de si mesmos, com suas sombras. Como agora me ter como companhia todo dia? Olhar pra mim, pensar em mim, me ver em mim? Não se pode agora recorrer ao disfarce das multidões. Quantas vezes nos escondemos em rodas de mil pessoas. Ali o nosso Eu não precisa gritar tanto. E agora ele pede que seja visto e seja, principalmente, amado. Ele pede pela vida!
Digo isso para os que estão na companhia absoluta de si mesmos. Sem ninguém ao lado. Captando o externo pela janela da sala. Ou seja, EU. O Eu só. E aqui só, não estou sozinho. Sou muitos. O lance é fazer com que todos se entendam nessa confusão momentânea onde se manter em casa é a melhor pedida.
Sei que para muitos já entrou no estágio do sufoco, do desespero. Eu, aproveitei mesmo essa ocasião, para fazer a minha faxina pessoal, a minha auto-observação. Há tempos afastava essa possibilidade de estar diante de mim, do tipo cara a cara, para um duelo com resultados incríveis e dolorosos. Mas acreditando que eu sairia vitorioso em qualquer circunstância.
Então, eu me alimento com doses de meditação, algumas ondas de TethaHealing, várias orações budistas e um caderno para fazer apontamentos da minha vida - uma espécie de auto-análise. Eu já estou no segundo caderno e não vejo ainda a possibilidade de me dar alta.
No fundo, todos estamos sobrevivendo, repensando o mundo. Eu me encontro nessa atmosfera louca e me ponho a fechar os olhos e só respirar, respirar, respirar. Quem dera, ao abrir os olhos, como num passe de mágica, tudo estivesse resolvido. E veríamos o comunicado na TV, avisando: “Podem sair de casa, o vírus não oferece mais perigo”.
Será que nesse dia, que sabe-se lá que dia vai ser, a gente saísse realmente diferente, preocupados uns com os outros? Ou isso duraria uma semana para depois toda a arrogância voltar a imperar? O que fizemos de nós? O que fizemos com o Planeta?
Agora eu me volto para o meu mundo. E ainda não entrei em desespero, pois sei que, se a pessoa estiver se afogando, se ela se desesperar, ela vai se afogar mais rápido. Por enquanto, eu me puxo pelos cabelos e faço versos e penso no que fiz comigo e no que poderei fazer aos outros… Eu estou em mim, assim, em plena quarentena de um domingo interminável!