Mudanças

Eu não sei o que será, mas posso afirmar o que não será. Não teremos após o Covid-19 um mundo como era antes. A China já demonstra novas formas de desenvolvimento econômico, e isso sem ter saído por completo do drama vivido. Estamos diante de uma mudança gigantesca, não sei se infraestruturalmente, mas estruturalmente, com certeza. Os trilhões que governos tem se servido para socorrer a população, mostra que dinheiro existe, que mesmo com aquele papo todo de crise, o Brasil ver surgir muito capital, assim como outros países. Observamos também a ineficácia da modernização das cidades e mesmo das chamadas "grandes potências", pela fragilidade diante dessa magnitude. O bate-cabeça dos governantes, que estão perdidos diante de tantas incertezas. E nossas certezas, que pareciam tão sólidas, escorrem como a liquidez de Bauman. Foucault nunca esteve tão em alta, ao vermos a Biopolítica em toda sua potência, além de ficar claro as divisões de classe, antes ditas imperceptíveis e a forma como se escolhe, quem vive e quem morre. Os excluídos, continuam lá, desassistidos. Aqui no Brasil, o presidente só falta dizer explicitamente, eu quero que vocês morram. Os idosos considerados desprezíveis por pessoas mais jovens que dizem, "isso não me afeta da mesma forma", e quantas aposentadorias não precisarão mais ser pagas. Mas quantas famílias não dependem das rendas desses idosos? E o homem que eu vi semanas atrás no sinal, tentando vender balas? As fraturas estão expostas, mas elas revelam uma fissura que não é apenas governamental, mas de governo de si, onde cada um de nós amarga por fazer parte da responsabilidade do cenário atual. Ver os caminhões com corpos na Itália, assistir em um canal chinês uma família contaminada em quarentena, o pai olha para a filha sem poder abraçar e lhe serve a comida por baixo da porta do quarto. Mesmo com tudo isso, ainda temos empresários que pensam que podem lucrar com isso, templos religiosos preocupados em manter sua clientela e continuar gerando receita, médicos que exploram virtualmente o desespero das pessoas com receitas milagrosas. Mas eu vejo a solidariedade, eu mesmo, não sou mais aquele, não sei o que serei, apenas estou disposto, não a, mas ao. Estamos sendo rearranjados em uma nova disposição global.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 26/03/2020
Código do texto: T6897468
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