Revolução silenciosa
Revolução silenciosa.
Por Valéria Gurgel
Revolução silenciosa, perigosa, que mata calada. Uma arma invisível, microscópica, disseminada pelo mundo. E não importa de onde veio, mas sim para aonde vai e a velocidade com que está indo! São dias tensos. Estamos todos assustados, frágeis e impotentes diante de tudo isso.
Já não há mais tempo nem razões para discussões, para encontrar culpados, para debater controvérsias, nem nos alimentarmos de separatismos ideológicos, étnicos, egoísticos. Não é hora para soberba. Chega de “guerras frias”, pois agora nossa guerra é virótica e planetária. Vivemos uma guerra travada contra um vírus que, se não combatido rapidamente, poderá dificultar a permanência humana da Terra.
Mas parece que muitos ainda não se deram conta da gravidade do tema. É tempo de consciência! De nos unirmos, de refletirmos no que já deveríamos ter aprendido desde quando ruíram e desmoronaram-se ao chão os primeiros e grandiosos impérios do mundo. Impérios esses, que foram erguidos sobre terras movediças de sede de poder infectado pela coroa de outrora.
Já é tempo de entendermos e aceitarmos uma simples verdade: - Somos todos um! Tudo o que afeta o outro também estará afetando você, mais dia menos dia! A humanidade parece, às vezes, que caminhou sem chegar em lugar nenhum e, portanto, se perdeu. Não se encontrou, e muito pouco evoluiu.
Sucederam-se, durante décadas, séculos, milênios, os conflitos, as guerras, as revoluções, as pragas do Egito, as pestes. Peste negra, peste bubônica, a gripe espanhola, a lepra, a aids, o câncer, quantas doenças assustadoras. Bomba de Hiroshima, ameaças de bombas nucleares, atentados terroristas, quedas de meteoritos, planetas que poderiam se chocar com a Terra. Para alguns até invasão de alienígenas. Os riscos do aquecimento global, produção desmedida de lixo, escassez de água, contaminação por resíduos tóxicos, são outras ameaças sobre o nosso planeta.
Foi preciso surgir algo invisível. Até os incrédulos e céticos tiveram que se curvar. Numa era onde todos já previam e temiam uma pane virtual que pudesse estagnar os sistemas por um ataque cibernético, foi justo um vírus que foi capaz de paralisar e imobilizar a roda que move o mundo. E assustou líderes religiosos, presidentes de todas as nações, potências mundiais, fortes empresários, bolsas de valores! Mas… Que valores?
E foi aí que todos foram questionados. O que vale mais que a vida humana? Mais uma vez, por ironia do destino, estamos nos curvando pelo poder de uma “coroa”. Fragilizados, ameaçados, amedrontados! “Corona” Vírus e o COVID 19, doença provocada pela coroa. O vírus da Coroa? Seria irônico se não fosse trágico!
São apenas 5 letras e 2 números capazes de levar a óbito entre 0,1 a 1,0 % da humanidade em alguns meses, se não tivermos consciência! Consciência, essa é a única palavra capaz de diminuir esse percentual de mortos no planeta!
Desde os primórdios da civilização, quando os povos começaram a se unir e formar grupos, colônias, vilas, cidades estados, países, fronteiras e as hierarquias começaram a surgir, assistimos à ganância, à febre de poder que invadia, dominava e matava. A verdade é que nunca houve consciência! Quantas cabeças decapitadas, sangue derramado, corpos queimados vivos, sem dó nem piedade? Quantos animais mortos, florestas em chamas, mares e rios contaminados, perdendo suas vidas sem entenderem o porquê?
Desde as dinastias de Sui, de Ming, Império Macedônio, Otomano, Russo, Britânico, Mongol, do Grande Qing, Romano, etc., a tudo isso assistimos. Quantos Impérios se desmoronaram? Sempre por uma coroa! Sempre num intuito doentio de exclusão de raças, de etnias, de crenças, de total extermínio social das grandes massas menos esclarecidas e menos favorecidas, dos valores humanos.
A Coroa do poder, do dinheiro, da fama, da vaidade, de falsas verdades, de crenças diversas, religiosas, políticas, sempre imperou. Milionários e poderosos acreditam ser donos do mundo! Vidas sendo ceifadas, inocentes, crianças, jovens, homens e mulheres, idosos explorados, torturados, escravizados, morrendo sem razão, sem direito a defesa.
Hoje, século XXI, ano 2020. Novamente uma coroa ameaça nossas vidas! Não seria um ultimato para reflexão? Quem de nós poderia imaginar viver tudo isso? Uma pandemia em um mundo globalizado e dominado por tecnologias de ponta a ponta? E a humanidade fica impotente sem saber como agir diante de tudo isso. Se paralisa tudo e desacelera o mundo pela vida, ou se perde a vida para salvar o mundo? De que serve o mundo sem a vida?
Não seria essa uma coroa com um propósito maior? Muito maior do que ainda hoje definimos por meu tempo, minha qualidade de vida, meu prazer, meu desfrute, meu emprego, minha universidade, meu carro, minhas joias, minha conta bancária, o meu valor. O que se entende por valores, prioridades, verdades, segurança, posses diante desse cenário em que estamos inseridos?
Foi preciso uma nova coroa, agora em forma de um vírus, para nos igualarmos, sem nenhuma distinção, para percebermos enfim o real sentido da vida! Indiferente de cor, de etnias, de posição social, poder, crenças, gêneros, sexo, idade, cidadania, cultura, grau de escolaridade, estatura, beleza. De fato, essa coroa está diante de todos!
Estamos recuados, atemorizados, escondidos, com medo do simples contato com a nossa própria raça. Medo de um aperto de mãos, de um abraço, de um olhar, de um beijo, da simples aproximação de menos de dois metros de distância uns dos outros, isso já nos faz pirar.
Mais uma vez fomos pegos por uma coroa! E o que mais necessita acontecer para aprendermos que todos somos um? Agora, só o que resta é a reflexão, para fazer brotar a consciência. Aproveitar o tempo forçado desse recolhimento, para refletirmos e nos conscientizarmos de muitas coisas… Coisas que já deveriam ter sido aprendidas.