O SERTANEJO

O SERTANEJO

*Rangel Alves da Costa

Pelos sertões, os ofícios são muitos. Mas além dos ofícios da terra, o sertanejo é um ser de sabedoria. E tão profunda é sua sabedoria que o acadêmico sequer chega perto de seu conhecimento firmado de geração a geração.

Contudo, a própria condição de sertanejo, geralmente visto como a imagem de um ser sofrido e ao desalento da vida, sem a devida valorização naquilo que produz desde a gestação da sobrevivência ao labor mais produtivo.

Por mais que demonstre sua força e sua habilidade de produzir, ainda assim o sertanejo é mais visto em sua humildade do que em sua capacidade. Assim, o ofício na terra ou na lide de gado, tantas vezes é tido apenas como um mero afazer. E tudo com consequências.

O sertanejo é geralmente um ser esquecido, relegado ao desdém da vida, assim que sai do cenário da utilidade imediata, seja como vaqueiro, aboiador, rastejador, caçador, lavrador, agricultor, ou qualquer outro ofício da terra ou do mato.

Alguns ainda firmam presença entre os amigos, entre os velhos conhecidos e aqueles que conhecem páginas de sua história. Outros, infelizmente, vão-se aos escondidos do esquecimento quase total, quando pouco saem de suas moradias ou quase não andejam pelas ruas ou vão lentamente caminhando entre as barracas em dias de feira.

Há que considerar-se, contudo, que as pessoas são importantes em qualquer fase ou ofício na vida. O vaqueiro, por exemplo, não é ser importante na vida sertaneja somente até enquanto se faz afamado em cima do alazão.

Um dia, quando as forças do tempo o fazem descer da montaria, do mesmo modo continuará importante perante os seus, perante a população e o seu mundo. Não apenas pelo ser em si, de cidadão e amigo, mas também pelo repositório de sabedoria e de conhecimento acumulado durante seu percurso na vida. E a estrada da vida ensina demais.

Quanto mais a idade avança mais o livro de cada um vai se enchendo de páginas de sabedoria. E quase todas podem ser lidas através das visitas, dos encontros e reencontros, dos proseados, da conversa boa em cima de tamborete ou no velho tronco estendido na malhada.

Cada um com suas histórias, seus causos, suas presenças no mundo das lutas, das tristezas e das alegrias. Um conta da dificuldade em pegar um boi, outro conta da coivara descuidada que quase incendeia tudo, outro conta dos mistérios da mata, e ainda outro fala das caçadas e do cuidado que se deve ter com a caipora. E assim em diante.

Contudo, o mais importante é a sensação de prazer sentida por cada sertanejo ante uma mão estendida, uma palavra amiga, a importância que é dada a cada encontro. É como se interiormente dissesse que ainda não foi esquecido, que ainda tem amigos, que ainda é relembrado pelo que foi no passado.

E assim, a partir da presença, é possível continuar tecendo o fio da história, da memória, do próprio sertão.

Escritor

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