QUARESMA

Da quarta-feira de cinzas carnavalesca até a ressurreição pascal, na tradição bíblica católica, teremos o tempo litúrgico, espiritual e reflexivo da quaresma, dedicado, em tese, às orações e penitências. Na minha pré-adolescência, residindo em Encantado, de colonização italiana e acentuadamente católica, lembro de que não se realizavam bailes e festas, as rádios tocavam músicas de notas religiosas, o comportamento era mais sisudo, o que também acontecia no reino da Capital do Estado: uma chatice! É mais um detalhe para compreender o esfacelamento da fé e, também, da Igreja, que jamais acompanharam a dinâmica dos tempos e costumes. Aposto que grande parte dos jovens não tem uma ideia mais consistente sobre a quaresma. O maior fundamento recente é que tal período ajusta-se a uma grande ressaca pós-carnavalesca, em que se torna necessária certa recuperação de energias, sendo que, simultaneamente, o ano de trabalho, estudos e pagamento de impostos começa efetivamente, sem choro e nem vela. A quaresma, pois, tem o seu lado soturno pelos compromissos a cumprir, especialmente quanto àquelas despesas mais faceiras de verão. São, afinal, as “águas de março” fechando o verão. Graças a Deus, apesar de todos os outros pesares, evaporou-se o “luto” temporário daquele tempo em que vivi e a vida segue o seu ritmo normal e gostoso. Mas, você aí, quem sabe ainda fantasiado ou na disputa renhida por sua escola de samba favorita, estará em outra “vibe” e poderá curtir um pouco mais o sonho: que se dane a realidade, que já está chegando com tudo. “É pau, é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho”. Mas também é “uma promessa de vida no teu coração”.