O pão de nossos dias
Fiquei um bom tempo sem comer pão. Depois até me arrisquei a comer pão integral. Mas, no geral, pão não faz muito parte da minha vida.
E agora pensando no simbólico do pão, posso lembrar passagens bíblicas, como "dê pão a quem tem fome" e o próprio milagre de Jesus ao multiplicar os pães. Assim como a passagem da oração Pai Nosso: "o pão nosso de cada dia nos dai hoje".
Em suma, o pão é o alimento, a forma de saciar nossa fome básica. Digo isso porque sou desses: de viajar em pequenas imagens em um dia de chuva. Explico. Eu agora estou com uma mania de fazer pedidos pelo Ifood em uma padaria. E como tem uma promoção de levar 3 pães de provolone e pagar apenas 2, é justamente isso que peço e mais alguns complementos.
Fiz o pedido hoje e um pouco antes de o entregador chegar, pensei na minha vó que pedia para a menina que trabalhava em sua casa ir a padaria comprar o pão da tarde. E eu aqui vendo como as coisas se modernizam. Hoje aperto uns botões no celular e pronto, o milagre está feito. E no caso, o milagre do pão mesmo. Em poucos minutos ele chega na minha casa, de maneira completamente cômoda. "Será que minha vó curtiria esse aplicativo?".
Bom, já tive esse lembrança gostosa das tardes na casa da minha vó. Algo emocional e forte em mim. Ah, minha vozinha, que saudade! Mal eu sabia que outra lembrança me viria.
Depois de preparar o meu sanduíche no meu pão de provolone... Ah, o pão de provolone é quase como um pão francês comprido com algumas lascas de provolone por cima. Na minha terra, Belém, é o que a gente chama de pão massa grossa. Então, com o sanduíche pronto, sento para comer no sofá. Na primeira mordida, cascas caem nas minhas coxas... e, vruuum, só essa imagem me lança para um quarto de hospital. E eu me vejo com o meu padrasto. Ele numa cama de hospital e eu dando de comer para ele. No começo eu preparava o sanduíche com manteiga e entregava em suas mãos. As suas mãos estavam fracas, mas ainda conseguiam segurar o pão. E ele comia e as cascas caiam em seu peito. Eu dizia para ele não se preocupar que eu limparia. Era o nosso ritual silencioso. Assim começava o nosso dia, às 7h, com o café da manhã. Depois de um tempo, meu padrasto foi perdendo o movimento das mãos. Então, eu já fazia tudo. No começo, quando ele já não tinha forças para segurar o pão, pedia-me desculpas. Eu dizia que não precisava esse pedido de desculpas e o convenci que dali pra frente eu o serviria sem problema. Assim seguiram os anos. Eu colocando o pão em sua boca e ele mastigando no seu tempo. Foram 4 anos assim. Realmente era a imagem mais precisa de dar pão a quem tem fome. Alguém que só tem a boca em lento mastigar para se alimentar e seguir lutando contra a doença. E, quase 3 anos depois, ao morder meu pão fui direto para esses momentos que tive com meu padrasto. Nossos últimos momentos. O pão dos nossos dias! E eu sou grato por tudo isso. NMRK!