Como sempre, ganhar é só um detalhe (Oscar 2020)
A vida é sempre feita de pequenas vitórias. Acordar, ter saúde, ter trabalho, ter um lar. Pequenas e não menos importante vitórias. E assim persistimos e vamos vivendo, tentando dar o nosso melhor e fazer a diferença.
Se você faz filmes, você pode ter um sonho que, à princípio, pareça impossível: concorrer a um Oscar. E o Oscar representa essa grande festa do cinema mundial, que existe desde 1927 e não deixa de ser uma enorme vitrine.
Então, só de estar entre os indicados já é uma imensa vitória. Porque tudo começa quando você é indicado para concorrer a uma indicação ao Oscar. É peneira atrás de peneira até você estar finalmente na festa. Até você pisar no tapete vermelho. Até você ter uma imagem do teu filme no telão entre os indicados. Isso já é VITÓRIA.
E o Oscar é uma festa da indústria cinematográfica americana. E se você é de outro país a dificuldade é maior e pode se restringir a uma indicação de melhor filme estrangeiro.
O Brasil teve sua primeira indicação de forma tímida, em 1945, com uma canção de Ary Barroso, Rio de Janeiro, que estava na trilha da produção americana "Brazil". Ou seja, estávamos concorrendo a Melhor Canção. E a canção vencedora desta edição foi "Swinging on a star”, de James Van Heusen e Johnny Burke, do filme “O Bom Pastor”.
Mas só iríamos concorrer a Melhor Filme, na edição do Oscar de 1963, com o filme de Anselmo Duarte, "O Pagador de Promessas". E quem venceu foi o filme francês "Sempre aos Domingos". De qualquer forma, estávamos lá.
Anos depois estaríamos no Oscar novamente com "O Quatrilho", na edição de 1996. Temos também a indicação do filme "O que é isso, companheiro?" em 1998. Aí depois veio "Central do Brasil", onde não só o filme como a atriz Fernanda Montenegro foi indicada. Mais depois ainda veio "Cidade de Deus", que concorreu a melhor direção, roteiro adaptado, edição e fotografia. Enfim, o nosso cinema ganhando destaque nessa "grande festa". E agora, na festa de ontem, estava Petra Costa concorrendo a Melhor Documentário por "Democracia em Vertigem".
Fora que ainda tivemos produções com destaque em diversas edições do Oscar, que tinham brasileiros em suas equipes. E também coproduções onde o Brasil estava lá.
Tudo isso para dizer o simples "vencer é um detalhe". É como olimpíadas. Se tem um brasileiro no salto em altura, por exemplo, vou estar torcendo por ele, entendendo toda dificuldade que ele teve pra chegar ali. Principalmente vindo de um país onde temos dificuldade pra tudo. Chegar em um evento desses já é vitória.
Entendendo as dificuldades e percursos de cada um, vibramos com vitórias de mexicanos, coreanos, espanhóis, iranianos e brasileiros. Ontem mesmo, tivemos aí o "Parasita" (um filme espetacular) que surpreendeu a todos, ganhando algumas estatuetas, incluindo os prêmio principal de Melhor Filme.
Em resumo, estar na festa é vitória! É ganhar destaque para a sua obra. E, como já disse, se você faz cinema, isso é um sonho: estar no Oscar. E Petra Costa esteve lá e brilhou com seu filme. Uma jovem cineasta com tanto ainda pra dizer, com sua coragem e força. Ela fez a diferença e brilhou. E foi o Brasil nessa grande festa. Pra mim, venceu!