Palavra Solta - sedução
Palavra Solta - sedução
*Rangel Alves da Costa
Vejo em ti um infinito poder de sedução. Gostaria demais que pudesse me seduzir também pelo conhecimento, pela sabedoria, pela inteligência. Mas se não puder ser assim, então me seduza de qualquer jeito. Aceito, em tudo, e toda, sua sedução. Seduza-me... Seduza-me assim sem a nudez vulgar, sem a permissividade, sem o rebolado forçado das nádegas. Seduza-me assim sem apelação, sem erotismo libertino, sem querer mostrar o que se deve imaginar pelo olhar. Seduza-me sem palavras bobas, vãs, apelativas, dando-se além do que se pode dar. Seduza-me sem a correria do sexo, sem o gozo sem prazer, sem o sexo prostituto. Você pode, tudo de belo há em você, então me seduza... Seduza-me pela doce palavra, pela poesia na voz, pelo sussurro saindo do lábio macio. Seduza-me pelo livro que você leu, pelo personagem que você gostou, pela crítica que você foi capaz de fazer. Seduza-me pelo interesse por coisas boas, interessantes, capazes de trazer conhecimento. Seduza-me ao lembrar a poesia de Drummond, de Florbela Espanca, de Neruda. Seduza-me com uma valsa vienense, um noturno de Chopin, uma barcarola de Tchaikovsky. Seduza-me com os coronéis amadianos, com os corvos de Poe, com as tragédias shakespearianas. Não pedirei demais. Se disso não for capaz, então me seduza apenas pelo que és. Mas seduza-me!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com