QUER SABER?

Sabe o que penso disso tudo?

Se a gente nasce por baixo e a vida corre pra frente, devemos nos dedicar um tanto menos ao que por cima nos parece. Olhar para trás atrasa a função dos olhos, retarda a razão dos sentidos e provoca dor no pescoço. Para os lados ninguém vê – somente a atenção. Portanto, tempo à frente e pé no presente!

Mas, parece que sem um lapso, o máximo que podemos é curtir a imensidão de uma dor local. E nos dedicamos ao dorido das coisas nossas como quem do ar retira os pulmões ou na água repõe a sede. O lance é efetivar a dor.

Tudo não passa de mera sensação.

Pelo sim, caso não, prefiro eu não pensar em nada disso. Prefiro ser um acaso nas ocasiões, pretendo ser também quem ninguém nunca foi. Anda mais fácil quem caminha ileso confundido com as multidões.

Tropeça em si mesmo cada um que opina sem ser convidado. O mundo passa por cima da ignorância, o mundo atropela o sábio. O mundo, cara pessoa, é um troço pesado e desgovernado. Você não passa de asfalto, ladrilho, lombada, terra batida. Eu e você, a ignorância e o sábio, a coragem e a fé, o precipício: todo mundo é amassado pelo mundo. O que nos difere é saber: quem de si de perceber ante o mundo e suas sombras o que há, sofre além um pouco além.

Não a dor dorida nos pescoços contorcidos ao delírio, nem também o trem desavisado, nem o cólera nos olhos. Mas o sofrer de quem sabe que vai sofrer. Já o idiota não sofre, nem mesmo por conta da idiotice: é pisado, pisoteado, solado e amassado, ainda assim, se desculpa com mundo por tê-lo sujado as solas do sapato.

A idiotice é uma dádiva.

Dá até cargo em ministérios.

Ou como diria a outra, amiga do tempo passado: no tabuleiro da ignorância a arrogância é certeira - não disfarça em nem precisa de trapaças.

Talvez minha tia tenha razão em espalhar correntes de Ano Novo que ensinam a encher os bolsos e continuar pobre. Talvez a riqueza dela esteja na devoção às simpatias. Talvez as conchas não guardem o som das ondas e sim das marés. Decerto, quando as coloco nos ouvidos é momento de maré baixa.

Quer saber o que penso disso tudo?

Pra quê? Pensar não está na moda, moda agora é achar, especular. Pensar aquece a cabeça.

E, por enquanto, todo mundo busca é uma solução para dor no pescoço.

O mundo está ocupado demais.

Por que alguém lá vai querer saber o que eu penso disso tudo?