Palavra Solta - viola em noite enluarada

Palavra Solta - viola em noite enluarada

*Rangel Alves da Costa

Aqui na cidade, aqui entre prédios acinzentados e ruas feias, eu fico imaginando as coisas que acontecem no meu sertão. Sertanejo eu sou, e lá das distâncias matutas do mundo e aonde estão espalhados casebres, casinhas de barro, porteiras, cancelas, malhadas e currais de poucos rebanhos. Lá onde Seu João pinica fumo de rolo e Dona Maria debulha feijão de corda. A galinha cisca ao redor, o fogão de lenha vai espalhando um cheiro de toucinho pelo ar. O papagaio tenta repetir tudo, mas a idade só lhe permite dizer “É a vida, é a vida...”. E nas noites, nos noturnos matutos de céu estrelado e lua grande querendo dourar toda a vida, então os compadres se juntam pelos alpendres, no meio do tempo ou debaixo dos pés de pau, para que o proseado faça relembrar a existência e a viola de pinho ecoe um cancioneiro que faça doer bem lá dentro do coração. Cururu, cateretê, guarânia, rancheado, toda a plangência autenticamente sertaneja a se misturar com as vozes da noite, as canções do vento e os sons melodiosos que somente o sertão possui.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com