Aquela Marca na Mão

Estava, um dia, a família reunida, quando Antônio desabafou com a mulher:

- Vitalina, vou para Goiás. Assim que comprar uma fazenda, volto para buscar toda a família.

- Não se preocupe, Antônio. Eu não quero mudar-me daqui. Nossos filhos gostam de Itaúna. Segue seu caminho que eu cuido deles.

Antônio estava se sentindo um pouco perturbado. Suas idéias, às vezes, falhavam, mas arrumou sua mala e partiu à procura de um local onde pudesse viver sem maiores preocupações.

Muitos anos se passaram e a família não recebia nenhuma notícia do paradeiro de Antônio. Gervásio, o filho mais velho, sempre esperava pela volta do pai.

Certa ocasião, foi abordado por um desconhecido:

- Rapaz, eu tive notícia de seu pai. O nome dele está escrito num livro de uma igreja, lá em Goiânia.

- Mesmo? Eu vou lá para trazer meu pai de volta, respondeu-lhe meio abalado com aquele estranho recado.

Depois de alguns preparativos, seguiu de carro para a grande cidade. Aquela tão precária informação foi apenas uma luzinha, mas que serviu para ressuscitar o fio de esperança e dar um rumo para aquele filho, na busca do pai.

Assim que chegou na periferia da grande capital goiana, a preocupação era encontrar um templo religioso. E com grande expectativa avistou uma igreja evangélica.

Foi prontamente atendido pelo Zelador em plantão:

- Estou à procura de meu pai. Ele saiu de casa e faz muito tempo que estamos sem notícia. É uma pessoa muito boa, mas não está em seu perfeito juízo. Teria por acaso um livro, nesta igreja, que consta o nome dele?

O atendente procurou num grande livro de capa preta e, realmente, lá estava o nome de Antônio Teles. Passou o endereço para Gervásio que, rapidamente, já foi se informando até avistar, numa rua distante, uma casa, muito simples, no meio de uma arvoredo.

Bateu palmas e apareceu um velho senhor que lhe perguntou:

- Quem é você?

Segurando a emoção, respondeu-lhe:

- Pai, sou seu filho. Sou o Gervásio.

O velho pensou, olhou bem para o rapaz e falou:

- Deixe-me ver sua mão esquerda.

Aquela queimadura era a prova de que o velho Antônio precisava para reconhecer o seu filho. Ele lembrou-se do dia em que um ferro de brasa caiu-lhe na mão, provocando uma grande ferida.

Abraçou-o e levou-o para dentro de casa. Chorando, ele disse que Deus é que havia mostrado-lhe o caminho de sua casa. As latas de mantimento estavam vazias e o dinheiro havia acabado.

Gervásio não conseguiu convencê-lo a retornar ao lar. Depois de abastecer as latas de mantimentos, deixar-lhe algum dinheiro, o jeito foi voltar para casa sem o pai. Sabendo, agora, de seu paradeiro, ficaria mais fácil visitar-lhe mais vezes.

Ainda demorou algum tempo para que o pai tomasse a decisão de voltar para a família. Foi quando ele pressentiu que chegara a hora da despedida.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 06/10/2007
Reeditado em 07/10/2007
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