FÉRIAS DE VERÃO - ONTEM E HOJE
Quando meu velho pai construiu a casa em Xangri-lá e começamos os grandes veraneios de dois meses na praia, creio que em 1964/65, vocês não imaginam a epopeia para as reuniões-dançantes e os grandes bailes no célebre HOTEL CASSINO XANGRI-LÁ, que, infelizmente, cassino nunca chegou a ser e acabou sendo literalmente destruído. A praia era bem pequena, poucas casas, muitos terrenos baldios, banhados, dunas e cômoros de areia, algumas vacas e cavalos no pasto aqui e acolá. O coaxar dos sapos e rãs compunham uma sinfonia de verão à noite. Nos dias de chuva, como só me restava ir a pé até o Hotel, freqüentemente tirava meias e sapatos para não molhá-los e não prejudicar a figuração na festa. No primeiro baile a que compareci, sem conhecer ninguém, fiz o seguinte. Muitas cubas (coca com rum), de pé no bar, olhares compridos e, finalmente, a decisão forte. Fui até a mesa onde estava, com toda a família, a Miss Brotinho escolhida naquela mesma noite e convidei-a para dançar: era a LICA (LILIAN) ARENHARDT, de Estrela, e assim fomos até o fim do evento. Só mesmo aos 17 ou 18 anos para ter todo esse peito. LICA devia ter 15, no máximo 16 anos. Tempos de dançar juntos, rosto colado, com os jornalistas GILDA MARINHO e ANTONINHO ONOFRE sempre presentes aos acontecimentos importantes, como aqueles bailes do Hotel. Lá pelo meio-dia, a praia, os primeiros contatos com a galera – fosse quem fosse - apresentações, brincadeiras e planos ousados para a noitada. Muitas serenatas na madrugada, com um galão de cachaça como combustível. O guarda-noturno era um dos maiores consumidores: um negrão alto e forte, com cicatriz de faca no rosto, que fazia a patrulha no balneário de bicicleta. Logo ficou manso e encaixado na turma, mas cobrava sua quota líquida religiosamente. Lembro que, além da cuba libre nos bailes e reuniões dançantes na boate do Hotel, todas as quartas-feiras, a gente às vezes comprava no Armazém do Tito um tal de uísque TORRE ALTA, que só conheci naquelas bandas. Na verdade, a gente transava muito pouco, mas a fantasia era uma loucura. Tempo de sonhos e desejos à flor da pele, sendo que as gurias não davam moleza. Era o que inspirava o cortejo insistente, as poesias, as dedicatórias de músicas e serenatas. Vantagem maior para quem tocasse violão ou cantasse bem. Eu caprichava mais na dança e na conversa mole. Fazer o quê? Pouca gente, menor disponibilidade feminina, é claro. Sabia-se rapidamente quem era quem. O mundo não tinha comparação com o agora. Planetas bem diferentes. Havia, por exemplo, um veranista com belo e populoso galinheiro. Não preciso dizer que, certa madrugada, atacamos em bando e surrupiamos um galináceo muito gostoso na panela de uma amiga no dia seguinte, reunindo a turma inteira. Pecado venial. Parece que há bastante mãe d’água atualmente, como outrora, mas não existem mais ataques frequentes de siris e nem a quantidade de mariscos, caramujos e estrelas do mar de que tanto desfrutávamos. O mar? Geralmente marrom claro, com muita onda para “pegar jacaré”, às vezes com planonda de isopor.