Palavra Solta – desistir de vez

Palavra Solta – desistir de vez

*Rangel Alves da Costa

De vez em quando a gente tem de desistir de vez. Desistir não da gente, mas do outro. E desistir de vez. Ou assim é feito ou o erro vai perdurar até a destruição ser completa. Ora, se tanto já se insistiu, já persistiu, já perdoou, já deu chance, já fez de conta que nada aconteceu, e ainda assim os erros crescem cada vez mais, então não há o que fazer senão desistir. E desistir de vez. Desistir ainda que o outro finja arrependimento e procure estender a mão. Uma mão assim ser tocada e ajudada é o mesmo que oferecer o calcanhar à serpente faminta para ferir. A pessoa se aproxima somente para usar, para mentir, para tirar um pouco, e depois de alguma conseguir, novamente voltará ao erro. Somente a inocência maior do mundo para não perceber quando chega a esse estágio. Como diz a lição antiga, muita gente vai abrindo a própria cova porque assim deseja. Muita gente vai caminhando à beira do abismo porque assim deseja. Como não adianta fazer nada, pois o erro parece já fazer parte da própria existência, então é melhor desistir. Ou desiste ou afunda de vez, enquanto o outro, mesmo sofrendo pelo fato de não mais poder usar e não ter mais aquilo que tinha, continuará sorrindo.

Escritor

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