O CIDADÃO DE BEM
Este cronista espera que o próximo ano seja melhor… Este cronista espera que haja amor e paz…
Entretanto, 2019 termina como um dos piores anos do século XXI para o nosso país! Um ano de retrocessos, um ano de intolerância em último grau, um ano pesado, lento, difícil…
O ano de 2019 quebrou o mito da cordialidade (que talvez nunca tenha existido) e cristalizou o termo CIDADÃO DE BEM como sinônimo máximo de civilidade e desenvolvimento. O ano de 2019 é um ano que não quer terminar…
Ao longo do tempo, indevidamente, o nome de Deus foi usado para guerras e massacres, para expansão de territórios e para legitimação de determinados atos, no entanto, como hoje e como sempre, os interesses mesquinhos de homens escreveram e reescreveram páginas patéticas e bizarras da história humana.
As cruzadas, a inquisição, as divisões geopolíticas, sobretudo na América Latina, na África e na Ásia, além dos sem número de conflitos espalhados ao redor do mundo (que é esférico) sinalizaram e sinalizam a bomba altamente destrutiva que é a união entre Estado e Religião.
Fundamentado na sua certeza e na sua superioridade, constrói-se, então, o perfil denominado CIDADÃO DE BEM…
O CIDADÃO DE BEM é o cidadão acima de qualquer suspeita, de comportamento irrepreensível e conduta exemplar. Possui e defende nobres valores sobre os quais NINGUÉM em sã consciência é capaz de questionar…
Hipocritamente, travestido dos ditos valores, pronuncia-se o bem de pouquíssimos privilegiados em detrimento de uma imensa maioria de brasileiros.
Contudo, o CIDADÃO DE BEM não existe. Ele é uma grande e triste ilusão… Uma capa, um verniz, uma desfaçatez!
O CIDADÃO DE BEM é deseducado, aponta erro pra todo lado, vocifera, esbraveja, grita seus impropérios, se acha acima do bem e do mal e se acha sempre o tal!
Se o CIDADÃO DE BEM for contrariado, é porrada pra todo lado!
O CIDADÃO DE BEM não sabe receber crítica, para ele TODOS estão errados, NINGUÉM reconhece seus méritos, por isso, ele precisa, O TEMPO INTEIRO, forçar e forçar e forçar em palavras, gestos e atitudes… É preciso, à força, mostrar seus valores…
Dessa forma, como bom cidadão de bem, ele, com unhas e dentes e punhos e armas defende valores familiares, mesmo que, para isso, precise destruir famílias…
Lamentavelmente, os valores defendidos são apenas maquiagem, uma pseudo imagem, uma pálida caricatura do pior de nós mesmos…
O que fica é a deseducação, a violência, a divisão, a prepotência, o autoritarismo, o preconceito e a intolerância…
Perseguições, regimes arbitrários, mortes e falência das instituições dão o tom.
Nas duas pontas do espectro político, os ismos descreveram e descrevem cenas de ódio e destruição. Não importa se o nazifascismo, não importa se o stalinismo: campos de concentração, extermínio e segregação.
Nas duas pontas do espectro político, os ismos acentuam as diferenças e as desigualdades de um país fraturado. Não importa se o bolsonarismo, não importa se o lulismo: coexistem pelo confronto, alimentando-se um do outro.
Em outras crônicas, como Lição do tempo, escrevi sobre o medo que tenho dos idiotas. Eles NUNCA aprendem com a história porque teimam em ignorá-la…
Mas, o que mais me preocupa e me assusta é que, respaldados e chancelados por uma pseudo e cega fé, cada vez mais os cidadãos de bem oprimem, ofendem e se agridem como se tudo fosse normal, como se fosse o certo a se fazer…
Este cronista é cristão e, pelo que sei, a ideia de cristianismo pregada está bem distante de sua essência, o amor, a doação, a tolerância, o sacrifício e o diálogo.
Em tempos de espetáculo, o que sobrevive não é mais a mensagem, mas a imagem da conveniência.
Em tempos de pós-modernidade, o que ficam são as verdades relativas, frágeis que são em suas ridículas argumentações.