Corpos Ingovernáveis
Uma perspectiva que tenho, já faz algum tempo, de que as transformações ocorreram a ponto de alterar a própria biologia. Não podemos mais educar as crianças de hoje, porque o cérebro não é da mesma maneira em seu desenvolvimento cognitivo, fazendo com que nossas ténicas sejam obsoletas ao extremo, assim como a violência dos que tentam reprimir os grupos LGBTS, as ondas de feminicídios atestam o declínio das hierarquias patriarcais e dos corpos binariamente normatizados. Sou grato por fazer parte dessa história e poder vislumbrar esse outro passo no desenvolvimento de nossa espécie. Os reacionários bradam suas clavas, porque estão deseperados diante do seu róprio apocalipse...
"Essas disposições bárbaras operam nas relações humanas em geral, mas hoje podemos reconhecê-las antes e acima de tudo nas relações corporais e nas configurações de gênero e sexualidade. Normas convencionais de relações corporais e sexuais entre gêneros e dentro deles estão cada vez mais abertas a desafios e transformações. Os próprios corpos se transformam e sofrem mutações para criar novos corpos pós-humanos. A primeira condição dessa transformação corpórea é o reconhecimento de que a natureza humana não é, de forma alguma, separada da natureza como um todo, de que existem fornteiras fixas e necessárias entre o homem e o animal, o homem e a máquina, o macho e a fêmea, assim por diante; é o reconhecimento de que a própria natureza é um terreno artificial aberto a todoas as novas mutações e misturas, a todos os hibridismos. Nós não apenas subvertemos conscientemente as fronteiras tradicionais, vestindo-nos de drag, por exemplo, como nos movemos numa zona criativa, indeterminada au milieu, no meio e sem consideração por essas fronteiras. As mutações corporais de hoje constituem um êxodo antropológico e representam um elemento extraordinariamente importante, mas ainda ambíguo, da configuração do republicanismo 'contra' a civiulização imperial. O êxodo antropológico é importante sobretudo porque aqui é onde a face positiva, construtiva, de mutação começa a aparecer: uma mutação ontológica em marcha, a invenção concreta de um primeiro novo lugar no não-lugar. Essa evolução criativa não ocupa simplesmente um lugar existente, mas inventa um novo lugar, é um desejo que cria um novo corpo; uma metamorfose que rompe todas as homologias naturalistas da modernidade."
("Império", Michael Hardt e Antonio Negri, 2012, p. 235 e 236)