Palavra Solta - ninguém vem para o jantar

Palavra Solta - ninguém vem para o jantar

*Rangel Alves da Costa

Tudo está mais triste. Natal e passagem de ano sempre entristecem. Mesmo sem motivos, tudo parece revirado por dentro. Os olhos miram horizontes procurando avistar qualquer coisa. Mas nada avistará. Apenas o olhar vazio e entristecido em dias assim. Noites de solidão e a vidraça sempre embaçada. Os olhos úmidos, molhados demais, sempre avistam assim. Um tempo de tristezas, de saudades, de relembranças, de nostalgias. Um tempo de querer ficar sozinho, de se trancar num quarto, de se entregar aos soluços debaixo do cobertor. Um tempo de amores distantes, de abraços que ainda queimam na memória, de presenças que já não estão. Nem acendo as luzes da árvore natalina. O presépio ficou embalado na caixa. Não comprei nenhum presente, também sei que não vou ganhar. Eu queria apenas receber um cartão natalino como antigamente, ser presenteado com uma folhinha ou calendário de bolso. Mas isso não existe mais. Mas o pior é que ninguém vem para o jantar. Uma mesa farta e para ninguém sentar em suas cadeiras. Eu sozinho e sem vontade alguma de colocar um pouco de vinho no cálice. Ninguém baterá à porta. Ninguém vem para o jantar.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com