FACES DO PRECONCEITO

NÃO TENHO TALENTO PARA ANALISAR O ROSTO DE MINHA MÃE QUE, EM SUA BELEZA DELINEADA COM O CINZEL DO CRIADOR, DEIXAVA AS LÁGRIMAS BROTAREM DAQUELE ROSTO, ENQUANTO ME SEGURAVA AO COLO PARA NÃO PAGAR PASSAGEM.
MEU IRMÃO AO LADO, COM SEUS OLHOS VERDES PERDIDOS NO HORIZONTE. ELE APRENDERA A SOFRER SEM NADA DIZER.
O COMBOIO CORRIA. A PAISAGEM ERA LINDA,MAS OS OLHOS NÃO A VIAM. ELES ESTAVAM POSTOS EM UM PASSADO RECENTE NO QUAL A FELICIDADE SENTARA-SE AO LADO DE NOSSA PEQUENA FAMÍLIA. FORA POUCO TEMPO. MAS, CADA PEDACINHO COMPÕE UM ETERNA PINTURA, GRAVADA NO CORAÇÃO DE UMA MENINA.
MINHA MÃE VENDERA TUDO QUE TINHA DE VALOR. ATRAVESSARIA O ATLÂNTICO. ERA A FALSA A ESPERANÇA DE QUE SERIA  AJUDADA NESTA TERRA MORENA E MARAVILHOSA.
ELA NÃO SABIA E ME ABRAÇAVA TÃO FORTE QUE PARCIA SUFOCAR-ME. ERAM AS DÚVIDAS QUE FALAVAM MAIS ALTO. ERA COMO SE QUISESSE RETER-ME EM SEUS BRAÇOS. NÃO PODERIA. UM PERÍODO NEBULOSO SURGIRIA À NOSSA FRENTE.
PROMESSAS SEMPRE FORAM FÁCEIS, PRINCIPALMENTE POR PARENTES RICOS. AQUELA MULHER "DESCASADA" ERA O OBJETO DA LÍNGUAS DE ALÉM-MAR, AINDA MAIS NO INICÍOIO DA DÉCADA DE 60. ERA BONITA E NÃO-CASADA; ESSE ERA UM DEFEITO IMPERDOAVEL. DE ONDE VINHA TRABALHAVA, DE SOL A SOL, NA TERRA. COLHIA DE TUDO. ERA INCANSÁVEL.ACREDITOU, ENTRETANTO, QUE SEUS FILHOS ESTARIAM MELHOR PERTO DOS PARENTES QUE A AJUDARIAM.
O QUE VIRIA FAZER, ANAFABETA, EM UM PAÍS ESTRANHO.
O TREM PAROU. ESTÁVAMOS NO PORTO DE LISBOA. ALI NOS AGUARDAVA O NAVIO VERA CRUZ, NA TERCEIRA CLASSE.
EM MEU VESTIDO - QUE EU AMAVA - TODOAZUL DE TAFETÁ E RENDA -EU OLHEI PARA CIMA E VI:

ELA OLHOU E CHOROU MAIS AINDA. DE FATO, NAQUELA MALA ESTAVAM SONHOS, PEDAÇOS DE FELICIDADE E MUITA MENTIRAS PASSEANDO EM CIMA DE TUDO QUE RESTARA.
DEZ DIAS DEPOIS, DESEMBARCAMOS NA PRAÇA .DDMAUÁ. NUNCA ... NUNCA ESQUECEREI O SABOR DA XÍCARA DE CAFÉ QUE APENAS PROVEI NAQUELE DIA 20 DE DEZEMBRO, NA PRAÇA MAUÁ DEPOIS DISSO, FORAM QUASE SETE ANOS NUBLADOS EM QUE MINHA MÃE APRENDEU A SER A DOMÉSTICA, QUE NÃO SABIA QUANTOS NOMES LHE DAVAM, DEPOIS QUE ME VISITAVA.
ELA PENSAVA QUE EU ERA BEM TRATADA, POIS NADA PODIA DIZER, SENÃO APANHAVA AINDA MAIS.
O PRECONCEITO MATERIALIZADO NA CRIANÇA QUE SE OFERECERAM PARA TOMAR CONTA E QUE, PARA ELES, ERA NADA, POIS NÃO TINHA NOME OU ROUPA, ATÉ O VESTIDO DA VIAGEM QUEIMARAM.
ESTAVA FORA DE MODA.
MAS, A FALSIDADE E O PRECONCEITO CONTRA MULHERES BONITAS E SEM MARIDO NUNCA ...


 
Luandro
Enviado por Luandro em 17/12/2019
Reeditado em 25/12/2019
Código do texto: T6821151
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