O buraco é mais em baixo
Como é bom morar alguns metros antes do buraco, mesmo que seja só alguns metros. As pessoas que moram adiante dele, sofrem muito. Sofrem porque quando vem aquela enxurrada toda, como é que se passa? Sem falar que a cada chuvarada ele só faz aumentar. Daí fica cada vez mais difícil para elas, as pessoas, passarem a pé ou com seus automóveis. Vira e mexe um carro fica preso lá: puxa daqui, empurra dali, calça acolá, e só depois de muita luta, se consegue tirar o bicho de dentro da cratera.
Eu sempre ouço o barulho daqui do meu quarto, dos carros raspando a barriga no fundo. Dá uma aflição danada! “É tudo culpa do Eduardo Barreto, que só se elegeu, mas até agora não fez nada por nós aqui do morro”, dizem os mais resmungões. Curiosamente, esses que mais reclamam, são os mesmos que jogam lixo, ali mesmo, do outro lado da calçada, perto do poste onde todo ano o casal de João-de-Barro constrói e reconstrói o seu ninho.
De vez em quando, quando a situação do buraco está mais crítica do que de costume, aparecem por aqui uma equipe da Proguaru (Progresso e Desenvolvimento de Guarulhos), para iniciar o que eles chamam de “Operação Tapa-Buraco”. É tanto nego que vem para tapar os buracos, que a gente acaba achando que isso aqui irá virar uma Avenida Paulista da vida.
E, falando em aglomeração de gente para “prestar socorro”, é bonito de ver a solidariedade das pessoas quando um carro fica preso nesse buraco
“Tem que levantar ele, tá cavando mais, tá cavando mais, tem que levantar o carro!”.
“Calma, calma. Empurra, empurra. Empurra ele pra trás. Não vem pra cá não, ó. Levanta que sai, pô!”
“Sabe como ele sai? Coloca pedra aqui, ó. Bem aqui”.
Porém, apesar da quantidade de gente envolvida na operação tapa buraco, apenas dois ou três sujeitos trabalham de verdade, na verdade. O restante são fiscais, fiscais dos fiscais, fiscais dos fiscais dos ficais, que “fiscalizam” a uma certa distância, todo o derramamento de suor dos dois ou três operários desgraçados, que geralmente começam trabalhar ás 7:30 da manhã e finalizam o serviço lá pelas 5:30 da tarde, que é quando o sol já está quase se pondo.
Bem, a operação tapa buraco se resume assim: o trator passa espalhando terra, enchendo os buracos com ela. Feito isso, espalha-se uma fina camada de pedrisco trazido por um Caminhão Basculante. Na sequência, passa-se o trator de rolo compressor por cima de tudo e reza-se para São Pedro segurar a chuva pelo menos por uma semana. Esses caras não são hilários, “progresso e desenvolvimento de Guarulhos”, aonde pelo o amor do nosso Jesus Cristo?
É pessoal, morar antes de um dos maiores buracos que tem nessa rua, é realmente um privilégio. Claro, não um imenso privilégio, se comparado com algumas ruas lá no centro do bairro, que até asfaltadas são, acreditem se quiser!