Palavra Solta – eu criei uma cobra

Palavra Solta – eu criei uma cobra

*Rangel Alves da Costa

Eu criei uma cobra. Eu não sabia quando, mas tinha a certeza que um dia ela iria me morder. E a cobra me mordeu. Cobra é cobra, eu sabia disso. Não se deve confiar em cobra de jeito nenhum, eu também sabia disso. E tudo fiz pelo modo errado, ainda que imaginando o que depois poderia acontecer. Criei a cobra de modo que não lhe faltasse nada, pois tinha sua toca, tinha sombra e água fresca, tinha alimento e repouso bom. Mas a danada astuta demais. De repente e era como se a serpente estivesse mirando meu calcanhar. Certo dia, eu tive até a certeza que se armou para o bote enquanto eu estava desprevenido. Seu olhar e seu jeito não negavam. Toda sonsa perto de mim, com jeito de falsidade, mas bastava eu dar as costas pra ela soltar verdadeiros silvos. Eu tinha a certeza que o seu veneno logo me alcançaria, que eu seria vítima daquela víbora, como de fato aconteceu. De repente adoeceu e eu me esforcei o máximo para que não passasse pelo pior. Tudo fiz. Mas sabem o que aconteceu depois que revigorei suas forças? Deu-me um bote, lançou-me sua peçonha. Mordeu e eu morri.

Escritor

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