Palavra Solta – portas fechadas

Palavra Solta – portas fechadas

*Rangel Alves da Costa

O sertão é belo e tão triste. Pelos seus caminhos não é difícil avistar casinholas, casebres de barro e cipó e mesmo residências mais portentosas, mas sempre com aquele aspecto sertanejo tão peculiar às suas vastidões ressequidas: casas que sempre parecem tristes, solitárias, fechadas pelas ausências, esquecidas num mundo de esquecimentos e desolações. Nem sempre assim, mas geralmente encontros que mais parecem em meio ao deserto e ao abandonado. Verdade que os sertanejos costumam manter suas portas fechadas em todos os instantes do dia. Somente ao entardecer, quando uma cadeira é colocada diante da porta ou quando o dono da casa se assenta num tamborete para ouvir seu radinho de pilha é que surgem sinais de vida, de presença daqueles moradores. Ao invés da porta da frente, é a porta dos fundos, que dá para o quintal ou cercados, que é utilizada como entrada e saída. Quanto muito, apenas um bicho de cria arreliando de canta a outro. Pelos sertões o que se encontra, assim, são casas tristes, de feições abandonadas, de portas fechadas, de malhadas solitárias, num quase sem vida. Muito se avista assim. E também dá uma tristeza dana avistar assim.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com