Os Pés de Capote
(Samuel da Mata)

A semana passada, quando meu vizinho  chamou-me  pra ver um pé de capote que nascera em seu jardim, eu comecei a chorar. Foi constrangedor, mas a nossa mente não consegue esquecer suas dores.

Eu só tinha dez anos e meus irmãos, que participaram da  cena, oito e doze. A vida era dura demais. Saímos de madrugada com meu pai e meu vô para tirar lenha no cerrado, a cerca de 10 km de distância. O local era longe, mas lenha ja estava muito dificil de se encontrar e alí ninguem ía,  por medo das cobras,

Já na mata, meu pai e meu avô cortavam de machado as árvores caídas e nós, as crianças, carregávamos os pedaços de tora para a beira da pista, onde o caminhão da firma apanharia na manhã seguinte. Foi assim o dia todo, até ao anoitecer.

A mata era densa e tinha muitos pés de capote, para a nossa alegria e preocupação de meu pai.
- "junto as árvores frutíferas é que se escondem as jararacas".

Na verdade, vimos umas duas cobras, mas graças a Deus, sem nenhum incidente.

Chegamos em casa tarde, lá pelas 21 horas, mortos de cansados, mas deixamos um caminhão de lenha pronto para ser recolhido logo cedo.

Logo após o banho, vi que meu pai chorava, mas eu não sabia o porquê. Só depois eu soube que, assim que saímos, alguém maldosamente ateara fogo em toda a lenha que juntamos.

Às vezes, as jararacas são muitos menos perigosas e peçonhentas que os seres humanos.




 

Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 29/11/2019
Reeditado em 02/12/2021
Código do texto: T6806898
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