NA EXTREMA CURVA DO CAMINHO EXTREMO
Escrever uma crônica neste país dos retrocessos é uma tarefa fácil, tristemente constato!
A cada minuto, uma palavra, uma frase, um pronunciamento revelam o que já virou comum: coisas bizarras e insanas são ditas como nada fossem, ou pior, como se fossem a mais pura e cristalina verdade!
Mas escrever sobre isso é uma chatice, uma grande sacanagem comigo e com todas as pessoas de bom senso!
Eu não deveria escrever sobre se a terra é de fato esférica...
Eu não deveria escrever e me esforçar para que as pessoas saibam e entendam que o nazismo foi um movimento de extrema direita.
Eu não deveria escrever e me fazer entender que QUALQUER regime de exceção, que tira direitos e persegue pessoas é chamado de ditadura...
Eu não deveria escrever sobre a desgraça que é o racismo, posto que as pessoas sabem e TEM CERTEZA de que isso é um câncer...
Eu não deveria escrever sobre TODAS as coisas que, em uma sociedade dita civilizada, são ditas e certas como INDEFENSÁVEIS...
Hoje, lamentavelmente, o que era indefensável toma forma, cor e se concretiza em palavras, atos, ideias e o que mais vier!
Agora, sem pudor, preconceitos são verdades e colocados como franqueza, como sinceridade...
Na extrema curva do caminho extremo, brutalmente, escolhemos a intolerância.
Na extrema curva do caminho extremo, fatalmente, desconstruímos um país...
Na extrema curva do caminho extremo, apagamos a história conforme nossas conveniências...
Na extrema curva do caminho extremo, matamos a voz, o abraço, o beijo e o afago e ficamos com o ódio, a violência pura, o conflito e o atraso...
Na extrema curva do caminho extremo...