Palavra Solta - na escrita do tempo

Palavra Solta - na escrita do tempo

*Rangel Alves da Costa

Em Poço Redondo, sertão sergipano, eu fundei e mantenho o Memorial Alcino Alves, um precioso acervo das relíquias e objetos que fazem e fizeram parte do mundo sertanejo. Nos espaços, eu tenho de pilões a oratórios, de ferros antigos de engomar a velhas cristaleiras, de retratos antigos ao artesanato da terra, e também biblioteca. Contudo, o inusitado está na canoa do São Francisco, no carro-de-bois e na prensa de casa de farinha. Anunciei que estava providenciando uma canoa, antiga, original, e ninguém acreditou. Lembro quando ela veio navegando pela estrada de chão e aportou no cais do Memorial. Mais uma maluquice minha, disseram. Não me importei. Só me importo mesmo pelo que deixei de fazer. Ou pelo que ainda não fiz, ainda que seja incompreendido - e até desvalorizado - na importância do livro vivo que a cada dia escrevo com as relíquias de nossa história. Eu passarei, eles passarão, mas o Memorial com fé em Deus permanecerá. E quando, num amanhã distante, outros estiverem perante aquilo que fiz, então sentirão que não fiz em vão. O tempo, e somente o tempo, para escrever a lição.

Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com