Moqueca de Sári

Convidei compadre Ornélio para almoçar lá em casa, no que de pronto aceitou.

O compadre é cheio de manhas, exigente, falador e não come qualquer coisa que lhe oferece sem que saiba o que está comendo – Coisas do seu jeito de matuto tipo sabedor de tudo. Não come nada de caça, pois diz que os bichos merecem viver com liberdade na natureza.

Zefa preparou a mesa, bonita bem ornada para receber o ilustre convidado, as panelas de barro foram chegando dava pra ouvir o borbulhar e quando as tampas foram abertas espalhando no ar o aroma do tempero da minha Zefa, o cheiro invadiu a casa e creio que chegou até nas brenhas da caatinga. Aproveitei para elogiar minha mulher e disse: Acho que casei com Zefa principalmente pelos seus dotes culinários. Ela sorrindo entendendo o carinho nas palavras emenda: Oxe Belmiro! E foi, foi. Rosa sua irmã diz: Eita Zefa, tu pegou meu cunhado pelo estomago foi?

Todos sorriem com o despejo de elogios e graças ali distribuídos.

Ornélio deu o velho e tradicional Hummmmm, esfregou as mãos, fechou os olhos (Imaginando não sei o que) lambeu os beiços, ajeitou a cadeira pra mais perto da mesa e danou-se tecer elogios pra minha véia, que curvando a cabeça e olhando para os pés meio sem graça, apenas agradecia com toda sua simplicidade de caboca sertaneja, dessas que orgulham seus maridos e os enche de orgulho por dividir com elas esse viver sertanejado de paz, labuta e muita fé.

Ornélio passeia os olhos pelas panelas, aonde vai milimetrando cada coisa ali a sua frente.

Arroz de cuxá, pirão (Bem amarelinho) feijão de corda com pedaços de toucinho, que é pra dar o cheiro e um gosto especial e na outra panela a famosa Moqueca de Sári. Ele assim meio que sem jeito me olha, e eu percebendo o seu olhar digo: Pergunte a Zefa.

Ele vai perguntando a Zefa como é feito cada coisa que ali está.

Bom, o feijão tem os temperos normais onde eu acrescento mais o coentro, torro o alho pra ficar com um gostinho diferente. O Pirão é feito com o próprio caldo da Moqueca de Sári, onde acrescento gengibre ralado, limão ralado e uma pitada de requeijão também ralado pra dar uma consistência melhor.

O Arroz de cuxá é uma receita típica maranhense, que leva os seguintes ingredientes:

Maço de Vinagreiras, cebola ralada (eu coloco também bem frita) pimentão, pimenta de cheiro (ou uma dedo de moça) camarão seco, arroz cozido e azeite.

É só isso. Pode se servir a vontade. Espere Dona Zefa e a mistura, a Senhora falou numa moqueca de que mesmo?

Responde Zefa (Disse Belmiro).

A Moqueca de Cuxá... Passe o arroz ai Zefa, (interrompe Belmiro) pode servir Ornélio, se o cheiro é bom imagina o gosto.

Ornélio começa fazer seu prato pelo arroz coloca umas duas colheres do pirão, pega a concha e coloca um pouco da moqueca de Sári.

Zefa aproveita para dizer que a moqueca dá muito trabalho fazer e que requer muita paciência e experiência. - E é por isso que fica muito gostosa completa Belmiro.

Ornélio leva a primeira colherada á boca sonoriza, de boca cheia um caprichado Hummmmm. Todos riem com aquela atitude repetida dele.

Moqueca de Sári vou pegar mais um pouco, pode? Fique a vontade Senhor Ornélio, O Senhor é nosso convidado.

E como é que faz essa moqueca Dona Zefa? Bem. Primeiro o Senhor... Rosa traga água prá nós – diz Belmiro. Nisso chega Cridêncio (Irmão de Belmiro) e já vai dizendo: Eita cheguei em boa hora. Boa tarde gente, oi Ornélio tudo bem? Tudo, responde. Que cheiro é esse Zefa, não me diga que é moqueca de Sári. É sim Cri, Seu Ornélio tá lambendo os beiços.

Mas não é pra menos. Essa é a melhor moqueca do mundo diz sorrindo o alegre Cridêncio.

Só passei aqui pra dizer que já ajeitei a cerca e que tô indo pra casa. Zumira disse que eu não me atrasasse, pois o cozido de Sáru hoje é especial. Belmiro ria e Zefa completava: Vai logo senão Zu te mata. Kkkkkk.

Até mais gente, bom apetite té mais tarde. Tchau (respondem em coro).

Belmiro pergunta, quer mais Ornélio? Já. Já estou satisfeito, agora eu quero uma água fresquinha. Zefa leva a moringa e o copo de alumínio (Que é pra ficar mais geladinha á água).

Ornélio faz uma pausa e pergunta: Cridêncio saiu dizendo que ia comer o que mesmo Belmiro? Não sei nem prestei atenção. O que foi Zefa? Tu não sabes como Cri é atrapalhado! E eu sei lá o que ele disse Belmiro, nem prestei atenção. Posso tirar os pratos Seu Ornélio? Pergunta Zefa educadamente. Pode sim, estou satisfeito e essa moqueca de (Cumé mesmo). Moqueca de Sári Seu Ornélio. Responde Zefa com um sorriso no canto da boca.

Ele elogia mais uma fez enfático: Ô Comida gostosa. Muito obrigado pelo convite. Não se esqueçam de me chamar de novo, pois vou passar uns dois sem comer, pra quando chegar aqui eu me empantufar de moqueca de Sári e esparramar o corpo naquela esteira de taboa.

Seu Ornélio se despede e vai embora, assobiando, feliz e de barriga cheia.

Não se esqueçam de me chamar de novo... Se ele souber o que comeu, ele nunca mais bota os olhos na gente de novo Belmiro. Isso é pra ele deixar de ser besta.

E o cozido de Sáru que Cridêncio falou, não seria pior se ele soubesse?

Tu não tens jeito não Bel. Diz Zefa sorrindo e Rosa se esbagaçando de dar tanta risada.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 04/11/2019
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