SOLIDÃO

A solidão é inerente ao fator humano, quer a pessoa a aceite, quer rejeite. Se, de um lado, vez que faz parte da gente, não se deve rejeitá-la com pavor, inventando mil escapes para não ter de encará-la, por outro lado, não é saudável cultivá-la como planta frutífera, com entrega a seus caprichos e assaltos. Não a vejo como assombração, mas nesse motor não ponho combustível. Você pode passar dois dias isolado em casa, lendo, estudando, escrevendo, comendo e bebendo, sem ser uma vítima da solidão. Há quem invente mil compromissos e atividades, esteja cercado de muitos outros viventes, mas, bem lá no fundo, sofra uma pontada aguda da “malvada”. Tirante os jovens com sua vitalidade e inquietação naturais, vidas muito movimentadas não raro escondem certa dose de vazio existencial, o que é normal, c’est la vie. Quem eventualmente se isola e protege-se, não é bicho do mato, é porque tira algum proveito deste estado de coisas. Muito simples. Eu já passei aniversário, Natal e Ano Novo sozinho na Europa, nem lembro exatamente o que fiz, mas claro está que mal não fez, ao contrário. Meu sogro tinha, há poucos anos, um amigo alemão, que passava temporadas em Torres. Lembro que adorava cachaça e um bom churrasco e andava só de bicicleta. Este alemão vinha ao Brasil em voo comercial de Ano Novo, pois a passagem era bem mais barata e ele se “enfrascava” de espumante a bordo do avião. Exagerando e na brincadeira, meu filho já disse que eu sou um tipo que não sofreria na prisão, se fosse o caso. Bastaria um computador, ou papel e caneta, alguns livros e eu nem visita faria questão de receber, muito menos saída para banho de sol.