COMER, COMER, SONHAR
A fantasia vai bem mais longe do que a realidade. Fisicamente, tenho comido pouco, inclusive emagreci. Meu relativamente recente “modus vivendi” tem interferido neste desencontro entre pensamento e realidade. É que durmo por volta das 4 da madrugada e acordo perto das onze horas: não passo sem um copo grande quente de café com leite, com uma fatia de presunto fantasia. Ao meio-dia, a sagrada cervejinha, até perto das 14 horas, quando, então, a comilança imaginada de véspera transforma-se, não raramente, em ovos moles com pão picado e duas ou três salsichas de lata ou coisa parecida. À noite, apenas sopa (creme natural de tomate, cenoura e beterraba ou de milho, ou de couve-flor ou de cogumelos), às vezes com pão torrado e manteiga. E, assim, estou me acostumando com pouca quantidade, mesmo nos bons manjares que encomendo, inclusive nos churrascos e melhores restaurantes. A esta hora, por exemplo, já estou pensando no que vou almoçar amanhã. Chose de loque. Penso em coisas atraentes, mas acabo comprando meio frango assado com polenta, lá na esquina da Caldwell, com boa sobra para os cachorrinhos. Por outro lado, também acho bom sentir-me leve, sem aquele peso de uma refeição pantagruélica e assanhada, como em outros tempos. É conveniente explicar que a empregada e boa cozinheira de muitos anos aposentou-se e que a preguiça também está exercendo papel relevante em meus novos hábitos. Este texto é para mostrar mudanças bruscas, nada a ver com idade ou doença. No lugar de leite, ao fim da tarde, eu, que não gostava muito, tenho tomado sorvete, com frio e tudo, pode isto, Arnaldo? A cabeça da gente é incontrolável, comida farta e muitas belas mulheres ganham espaços indevidos. Ponto final.