DIFERENÇAS
Sim, se você teve berço distinto e soube captar bons exemplos e ensinamentos, pode valer-se de fator positivo em muitas coisas. É o que se chama educação de família. Por outro lado, conheço pessoas de origem bem humilde e baixa instrução, algumas de famílias desestruturadas, que preservaram objetivos, determinação e caráter, nadando de poncho contra a correnteza e chegaram lá. Muita gente “mais ou menos”, vários pretensiosos e arrogantes, mas pessoas firmes e de peso a gente encontra nos mais improváveis meios, sem doutorado em Oxford, Cambridge ou Sorbonne. A questão econômica tem significado relativo, pois o fato de você receber uma herança polpuda, ser esperto e explorar os semelhantes, enganando o Fisco e as leis, não constitui nenhuma distinção. O sujeito que ganhou fortuna na loto é um felizardo, mas pode ser também um psicopata ou idiota qualquer. Há muita gente rica cheia de méritos, portanto vou deixar à margem o que dizia Honoré de Balzac: “Por trás de toda grande fortuna, um crime”. O preconceito é coisa feia, mas há quem não me engane, ainda que ninguém seja propriamente santo. Tomemos como exemplo jogadores de futebol, geralmente de origem muito simples. São bons e merecidamente ganham rios de dinheiro, por certo tempo. Digo merecidamente, porque não dá para ignorar a realidade do mercado atual em nosso sistema. Alguns dissipam praticamente tudo, caem na gandaia e detonam. Mas vários atletas poupam para o futuro, ajudam a família e amigos e, quando ganham muito mesmo, destinam parte a obras sociais. Têm vida regrada, não costumam arrumar confusão, alguns até ingressam na política ou no mundo empresarial. A pessoa nasce inteligente ou não, portanto, é qualidade relativa, não dá para festejar. Todo mundo quer viver bem, curtindo do bom e do melhor, mas a vida é complicada. Fora da pobreza absoluta, do abominável nível de miséria existente, ninguém precisa ser astro ou campeão, mas é possível ser digno e determinado, com maior dificuldade para a grande maioria. Há muita gente valorosa, honesta e promissora na pobreza, que não sonha com grandes conquistas materiais: o bem viver é relativo. Me incomoda é ver pequenos e médios venderem a alma ao diabo para integrar a corte e beijar o anel do rei. Logo estarão de volta a casa, de chinelo e pijama, assistindo a novelas e contando as moedinhas.