QUEM VOCÊ QUERIA SER?

Ainda ontem, minha mulher, em função de um filme a que assistíamos, perguntou-me quem eu gostaria de ser, não fora eu mesmo. Pensei e respondi: ninguém diferente. Ela insistiu no questionamento, refleti mais um pouco e arrematei com firmeza: ninguém, eu gostaria de ser apenas o que sou. A maioria dos amigos me achará provavelmente bobo, talvez limitado, já que não tenho maior significado como indivíduo no contexto geral. Estão certos. Poderia almejar ser o Presidente, o Papa, o Diretor Artístico da Rede Globo ou o dono da AMBEV, assim como qualquer um de vocês. Tutufum, saravá, digo eu. Não percorri todo o meu caminho para, ao final, desejar os resultados de quem palmilhou diferentes sendas. Palavras têm peso, portanto aí vai: não gostaria de ser rico, lindo e arrasador, poderoso ou popular, com todas as glórias. Nunca cogitei concretamente de encontrar algum atalho para tanto. Tive meus 15 minutos de fama, mas só por estar na batalha, vendendo meu peixe e ganhando o leitinho para as crianças. Se nem eu mesmo recordo tudo com precisão, o que esperar dos outros? Sempre fui realista e, por exemplo, acolho de bom grado opiniões frequentes de como eu poderia ou deveria escrever um livro narrando experiências e pensamentos. Já escrevi quatro e só os mais íntimos se dão conta. E, aliás, poucos os leram de verdade. Eventualmente, numa livraria, aparece, por valor até relativamente bem cobrado, algum livro usado de minha autoria, com dedicatória e tudo: triste destino. Se tiverem interesse, procurem na ESTANTE VIRTUAL ou na TRAÇA – LIVRARIA E SEBO e encomendem algum achado literário meu. Só informo para cumprir obrigação básica. A vida é assim, fazer o quê? Elaborei um singelo teste no Facebook, recentemente, e figuras ilustres foram identificadas por muito poucos. Se os indigitados pensaram em marcar história, o intento foi assaz restrito. Se aproveitaram bem a vida, beleza, é o que realmente importa. Não quero ser nem Eça de Queirós e nem Paulo Coelho, nem mais novo e nem mais velho, que eu fique mesmo o que sou, uma breve trova na epopeia familiar.